quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Fonologia, morfologia, sintaxe ou semântica?

É importante saber diferenciar fonologia, morfologia, sintaxe e semântica para compreendermos o comando de determinadas questões e, assim, resolvê-las corretamente. Os exercícios abaixo são ótimos exemplos dessa importância.


Texto para as questões 01 e 02
O assassino era o escriba
    Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,
regular como um paradigma da 1ª conjunção.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido na sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
Paulo Leminski

01.    (Mackenzie - Adaptada) Sobre o texto de Paulo Leminski, podemos afirmar que:
a) a terminologia sintática e morfológica, que em um primeiro momento é motivo de estranhamento, concede o efeito de humor ao poema.
b) o eu lírico demonstra por meio da composição de texto pessoal e confessional o seu desconhecimento gramatical.
c) o texto é estruturado em forma de poema, mas em função de sua organização gráfica, métrica e rítmica é considerado uma narrativa policial.
d)  entre os versos 01 e 07, o leitor toma consciência de todos os fracassos que compuseram a vida do professor.
e) o título do texto é ambíguo por apresentar, por uma semelhança fonética, a aproximação entre a palavra “assassino” e “sintaxe”.

02.   Indique os elementos, mencionados no texto, que pertencem à morfologia:
a)  sujeito – conectivo.
b)  oração subordinada - adjunto adverbial.
c)  artigo – pronome.
d)  predicado – interjeição.
e)  pleonasmo – regência.

03.   (ENEM) [Em Portugal], você poderá ter alguns probleminhas se entrar numa loja de roupas desconhecendo certas sutilezas da língua. Por exemplo, não adianta pedir para ver os ternos — peça para ver os fatos. Paletó é casaco. Meias são peúgas. Suéter é camisola — mas não se assuste, porque calcinhas femininas são cuecas. (Não é uma delícia?) (Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)

O texto destaca a diferença entre o português do Brasil e o de Portugal quanto:
a) ao vocabulário. 
b) à morfologia.           
c) à pronúncia.           
d) ao gênero.            
e) à sintaxe.
Descrição de gravura
Reinaldo Jardim

Eu vejo uma gravura, grande e rasa.
No primeiro plano, uma casa.
À direita da casa, outra casa.
À esquerda da casa, outra casa.
Lá no fundo da casa,outra casa.
Em frente da casa, uma vala:
Onde corre a lama, doutra casa.
E no chão da casa,outra vala
Onde corre o esgoto doutra casa.

Esta casa que eu vejo, não se casa
Com o que chamamos de uma casa.
Pois as paredes são esburacadas,
Onde passam aranhas e baratas.

04.   (G1 - cftrj 2014)  O texto é marcado pelo recurso da repetição, que se verifica em diferentes níveis: fonético, sintático, rítmico e vocabular. Nos versos de 2 a 11, a repetição vocabular produz um efeito semântico que: 
a) critica a presença de construções evasivas.   
b) evidencia o sofrimento cotidiano dos moradores.
c) torna mais vívida a imagem construída no poema.    
d) cria uma imagem confusa das construções descritas.    
e) intensifica gradativamente o efeito de aglomeração. 

05.   (Enem 2ª aplicação 2010)  Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado, apuro o ouvido; não espero só o sotaque geral dos nordestinos, onipresentes, mas para conferir a pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo nordestino fala igual; contudo as variações são mais numerosas que as notas de uma escala musical. Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí têm no falar de seus nativos muito mais variantes do que se imagina. E a gente se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo mundo ri, porque parece impossível que um praiano de beira-mar não chegue sequer perto de um sertanejo de Quixeramobim. O pessoal do Cariri, então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the; já nós, ásperos sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os terminais em al ou el – carnavau, Raqueu... Já os paraibanos trocam o l pelo r. José Américo só me chamava, afetuosamente, de Raquer.
Queiroz, R. O Estado de São Paulo. 09 maio 1998 (fragmento adaptado).

Raquel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de variação linguística que se percebe no falar de pessoas de diferentes regiões. As características regionais exploradas no texto manifestam-se
a) na fonologia.   
b) no uso do léxico.   
c) no grau de formalidade.   
d) na organização sintática.   
e) na estruturação morfológica.   




06.   O efeito de sentido da charge é provocado pela combinação de informações visuais e recursos linguísticos. A crítica social apresentada se faz, principalmente, a partir do uso de estratégias relacionadas à
a) morfologia, ao utilizar classes gramaticais distintas para explicitar a diferença social entre os personagens.
b) fonologia, ao contrapor diferentes realidades a partir de palavras semelhantes quanto à sonoridade.
c) sintaxe, ao mostrar que os personagens da charge possuem sotaques e condições sociais distintos.
d) morfossintaxe, ao relacionar termos que exercem funções diferentes a depender da pronúncia das mesmos.
e) semântica, ao apresentar palavras que não possuem sentido definido no contexto em que se apresentam.


07.   (Ufrj 2008)                                        
 Flagra
Rita Lee & Roberto de Carvalho
No escurinho do cinema
Chupando drops de aniz
Longe de qualquer problema
Perto de um final feliz

Se a Deborah Kerr que o Gregory Peck
Não vou bancar o santinho
Minha garota é Mae West
Eu sou o Sheik Valentino

Mas de repente o filme pifou
E a turma toda logo vaiou
Acenderam as luzes, cruzes!
Que flagra!
Que flagra!
Que flagra!

No texto, a pronúncia dos nomes de atores célebres do cinema americano no 50 verso leva a um criativo efeito cômico.
a)       Explique esse efeito, valendo-se de elementos fônicos e morfossintáticos.

b)      Identifique, no plano vocabular, a relação semântica entre o 50 e o 60 versos.  

__________________________________

GABARITO

01. A

02. C

03. A

04. E

05. A

06. B

07. a) O efeito cômico existe quando se percebe a semelhança sonora entre "Kerr" e "Peck" e "quer" e "peque". Isso resulta na alteração de classe gramatical - de substantivo (próprio) a verbo - e, conseqüentemente, de função sintática.

b) As palavras "peque" e "santinho" passam a integrar o mesmo campo semântico, ao observarmos que há uma relação de contraste entre pecado e santidade.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Análise morfológica e interpretação textual

Nos exercícios a seguir, você irá praticar a classificação morfológica das palavras, associando-a à compreensão textual. 


01.   (Enem PPL 2012) MORUMBI PRÓXIMA AO COL. PIO XII Linda residência rodeada por maravilhoso jardim com piscina e amplo espaço gourmet. 1 000 m2 construídos em 2 000 m2 de terreno, 6 suítes. R$ 3 200 000. Rua tranquila: David Pimentel. Cód. 480067 Morumbi Palácio Tel.: 3740-5000.

Os gêneros textuais nascem emparelhados a necessidades e atividades da vida sociocultural. Por isso, caracterizam-se por uma função social específica, um contexto de uso, um objetivo comunicativo e por peculiaridades linguísticas e estruturais que lhes conferem determinado formato. Esse classificado procura convencer o leitor a comprar um imóvel e, para isso, utiliza-se:

a) da predominância das formas imperativas dos verbos e de abundância de substantivos.
b) de uma riqueza de adjetivos que modificam os substantivos, revelando as qualidades do produto.
c)  de uma enumeração de vocábulos, que visam conferir ao texto um efeito de certeza.
d)  do emprego de numerais, quantificando as características e aspectos positivos do produto.
e) do uso de letras de diversos tamanhos, destacando os pontos principais para o possível interessado.


Texto para as questões 02, 03, 04 e 05
O ARRASTÃO
Estarrecedor, nefando, inominável, infame. Gasto logo os adjetivos porque eles fracassam em dizer o sentimento que os fatos impõem. Uma trabalhadora brasileira, descendente de escravos, como tantos, que cuida de quatro filhos e quatro sobrinhos, que parte para o trabalho às quatro e meia das manhãs de todas as semanas, que administra com o marido um ganho de mil e seiscentos reais, que paga pontualmente seus carnês, como milhões de trabalhadores brasileiros, é baleada em circunstâncias não esclarecidas no Morro da Congonha e, levada como carga no porta-malas de um carro policial a pretexto de ser atendida, é arrastada à morte, a céu aberto, pelo asfalto do Rio.
Não vou me deter nas versões apresentadas pelos advogados dos policiais.1Todas as vozes terão que ser ouvidas, e com muita atenção à voz daqueles que nunca são ouvidos. Mas, antes das versões, o fato é que esse porta-malas, ao se abrir fora do script, escancarou um real que está acostumado a existir na sombra.
O marido de Cláudia Silva Ferreira disse que, se o porta-malas não se abrisse como abriu (por obra do acaso, dos deuses, do diabo), esse seria apenas “mais um caso”. 2Ele está dizendo: seria uma morte anônima, 3aplainada pela surdez da 4praxe, pela invisibilidade, uma morte não questionada, como tantas outras.
5É uma imagem verdadeiramente surreal, não porque esteja fora da realidade, mas porque destampa, por um “acaso objetivo” (a expressão era usada pelos 6surrealistas), uma cena 7recalcada da consciência nacional, com tudo o que tem de violência naturalizada e corriqueira, tratamento degradante dado aos pobres, estupidez elevada ao cúmulo, ignorância bruta transformada em trapalhada 8transcendental, além de um índice grotesco de métodos de camuflagem e desaparição de pessoas. 9Pois assim como 10Amarildo é aquele que desapareceu das vistas, e não faz muito tempo, Cláudia é aquela que subitamente salta à vista, e ambos soam, queira-se ou não, como o verso e o reverso do mesmo.
O acaso da queda de Cláudia dá a ver algo do que não pudemos ver no caso do desaparecimento de Amarildo. A sua passagem meteórica pela tela é um desfile do carnaval de horror que escondemos. 11Aquele carro é o carro alegórico de um Brasil, de um certo Brasil que temos que lutar para que não se transforme no carro alegórico do Brasil.
 José Miguel Wisnik. Adaptado de oglobo.globo.com, 22/03/2014.
3 aplainada − nivelada
4 praxe − prática, hábito
6 surrealistas − participantes de movimento artístico do século 20 que enfatiza o papel do inconsciente
7 recalcada − fortemente reprimida
8 transcendental − que supera todos os limites
10 Amarildo − pedreiro desaparecido na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, em 2013, depois de ser detido por policiais

02.   (Uerj 2015 - Adaptada)  Aquele carro é o carro alegórico de um Brasil, de um certo Brasil que temos que lutar para que não se transforme no carro alegórico do Brasil. (ref. 11)

A sequência do emprego dos artigos em “de um Brasil” e “do Brasil” representa uma relação de sentido entre as duas expressões, intimamente ligada a uma preocupação social por parte do autor do texto. Essa relação de sentido pode ser definida como:
a)      ironia .              
b)      conclusão.            
c)      causalidade.          
d)      generalização.           
e)      conformidade.

03.   (Uerj 2015 - Adaptada)  No início do texto, ao expressar sua indignação em relação ao tema abordado, o autor apresenta uma reflexão sobre o emprego de adjetivos. Essa reflexão está associada à seguinte ideia:
a)      o fato exige análise criteriosa.   
b)      o contexto constrói ambiguidade.   
c)      a linguagem se mostra insuficiente.   
d)      a violência pede descrição cuidadosa.
e)      a imagem é facilmente manipulada.
  
04.   (Uerj 2015 – Adaptada)  Ele está dizendo: seria uma morte anônima, aplainada pela surdez da praxe, pela invisibilidade, uma morte não questionada, como tantas outras. (ref. 2)

Logo após citar a declaração do marido de Cláudia, o autor a explica. Em relação a essa declaração, a explicação do autor produz o efeito de:
a)      enfatizar seu conteúdo.   
b)      corrigir sua construção.   
c)      enumerar seus detalhes.
d)      evidenciar suas incoerências.
e)      contrapor-se à sua simplicidade.  

05.   (Uerj 2015 - Adaptada)  É uma imagem verdadeiramente surreal, (ref. 5)

Na argumentação desenvolvida pelo autor, a imagem do porta-malas do carro da polícia expressa sentidos ambivalentes em relação à violência. Esses sentidos podem ser definidos como:
a)       achar – perder.   
b)      socorrer – redimir.   
c)       esconder – revelar.   
d)      orientar – desorientar. 
e)      ocultar – denunciar.

Vivemos numa cultura marcada pelo individualismo afetivo e prático. Vivemos sob um sistema socioeconômico globalizado que prioriza o lucro e a produtividade em prejuízo das pessoas. As consequências são sentidas por todos nós, e mais duramente pelos pobres.
A lógica do mercado decreta friamente que eles são um estorvo, não deveriam ter filhos e melhor seria se simplesmente não existissem. Seus rostos famintos nos incomodam, seus filhos miseráveis nos revoltam.
MIRANDA, Mário de F. "Promover a vida". In: O GLOBO. 12 de dezembro de 2002. p. 6.

06.   (Ufrrj 2004)  Os dois primeiros períodos do texto iniciam-se com verbos na primeira pessoa do plural - VIVEMOS. Esta estratégia utilizada pelo autor serve para indicar que, tanto ele (autor) quanto nós (leitores),
           
a) somos cúmplices na situação descrita pelo texto.   
b) sentimo-nos impotentes diante da situação descrita pelo texto.   
c) temos um compromisso com a mudança histórica.   
d) dependemos do estado de coisas descrito para sobreviver.   
e) convivemos com um estado de coisas que combatemos necessariamente.  

Cineclube em SP realiza feira de trocas mensalmente
No último domingo (7), a associação Cineclube Socioambiental Crisantempo, localizada na Vila Madalena, bairro da zona oeste de São Paulo, realizou uma feira em que os moradores puderam trocar objetos entre si. A iniciativa busca incentivar o consumo consciente e levar para o espaço o conceito de economia solidária.
A feira de trocas acontece uma vez por mês, sempre aos domingos. O grupo aconselha levar livros, roupas, CDs, DVDs, aparelhos eletrônicos, brinquedos, objetos de decoração, objetos em geral que estejam em bom estado.
 Fonte: http://cicIovivo.com.br/noticia/cinecIube-em-sp-realiza-feira­-de-trocas-mensaImente/. 

07.   (G1 - cp2 2017)  “No último domingo (7), a associação Cineclube Socioambiental Crisantempo, localizada na Vila Madalena, bairro da zona oeste de São Paulo, realizou uma feira em que os moradores puderam trocar objetos entre si.”

   “A feira de trocas acontece uma vez por mês, sempre aos domingos.”

    Em relação aos artigos sublinhados nas duas passagens do texto, pode-se dizer que
a) na primeira, usou-se o artigo definido para apresentar um elemento, e depois se usou o indefinido para retomar esse elemento.   
b) na primeira, usou-se o artigo indefinido para apresentar um elemento, e depois se usou o definido para retomar esse elemento.   
c) na primeira passagem, o artigo indefinido é desnecessário não não apresentar informação relevante sobre seu referente.
d) nas duas passagens, usou-se o artigo indefinido para não determinar o elemento sobre o qual se está falando.   
e) nas duas passagens, usou-se o artigo definido para retomar a um elemento citado anteriormente.

Já se sentiu vítima de algum tipo de marginalização e/ou discriminação dentro de sua universidade?
Infelizmente, devo dizer que sim. Não se trata de discriminação ou marginalização pelo fato de ser brasileiro, porém. Trata-se de uma dificuldade (talvez natural) que tem um "novo imigrante" em penetrar na "elite" da sociedade local, que controla as posições de poder. Essa elite é constituída por pessoas que estudaram juntas na escola, que fizeram o serviço militar juntas, que pertencem ao mesmo partido político, etc. e que se apoiam mutuamente. Tive a oportunidade de sentir esse tipo de hostilidade quando fui eleito diretor da Faculdade de Ciências Humanas. Cheguei mesmo a ouvir expressões como "a máfia latino-americana em nossa faculdade", quando somos nada mais que dois professores titulares de procedência latino-americana. Mas, verdade seja dita, trata-se de uma hostilidade proveniente dos que estavam habituados ao poder e não se conformavam em perdê-lo.
A maioria não só me elegeu, mas também me apoiou e continua apoiando as reformas que instituí em minha gestão.
DASCAL, Marcelo. Entrevista publicada no caderno Mais / Folha de S. Paulo, 18/05/2003.

08.   (Uerj 2004 - Adaptada)  Certos substantivos participam do processo de coesão textual quando recuperam alguma informação ou conceito já enunciado. O termo do texto que tem esta função é:
a)       universidade.          
b)      sociedade.         
c)       oportunidade.        
d)      hostilidade.         
e)      gestão.


09.   (G1 - cp2 2017)  Na tirinha, Mafalda utiliza o adjetivo “ingênuos” porque
a) ironiza a sensação de mudança manifestada pelo pai.   
b) entende a fala do pai como uma mudança real de identidade.   
c) considera que aqueles que enviam cartas não entendem de viagens.
d) considera que aqueles que enviaram as cartas não conhecem bem a vida.   
e) reconhece a importância de se lembrar das responsabilidades diante de mudanças.


 OLHOS DE RESSACA
                Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas.
                As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.
 (ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Capítulo 123. São Paulo: Martin Claret, 2004.)

10.   (Uerj 2005 - Adaptada)  No texto, a descrição dos fatos não é objetiva, pois temos acesso aos traços e às ações dos demais personagens apenas por meio do olhar comprometido do personagem-narrador.

  A alternativa que indica uma estratégia utilizada pelo personagem-narrador para expressar um ponto de vista individual dos fatos e a passagem que a exemplifica é:

a) narração em 1ª pessoa - "As minhas cessaram logo."   
b) enumeração de ações - "Consolava a outra, queria arrancá-la dali."   
c) seleção de adjetivos e advérbios - "tão fixa, tão apaixonadamente fixa".   
d) apresentação de períodos simples -  “As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela”.
e) imprecisão cronológica - "Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto".

Texto para as questões 11 e 12
A invasão dos blablablás
O planeta é dividido entre as pessoas que falam no cinema − e as que não falam. É uma divisão recente. Por décadas, os falantes foram minoria. E uma minoria reprimida. Quando alguém abria a boca na sala escura, recebia logo um shhhhhhhhhhhhh. E voltava ao estado silencioso de onde nunca deveria ter saído. (...)
Não é uma questão de estilo, de gosto. Pertence ao campo do respeito, da ética. Cinema é a experiência da escuta de uma vida outra, que fala à nossa, mas nós não falamos uns com os outros. 1No cinema, só quem fala são os atores do filme. Nós calamos para que eles possam falar. Nossa vida cala para que outra fale.
Isso era cinema. Agora mudou. É estarrecedor, mas os blablablás venceram. Tomaram conta das salas de cinema. E, sem nenhuma repressão, vão expulsando a todos que entram no cinema para assistir ao filme sem importunar ninguém.
Eliane Brum. revistaepoca.globo.com, 10/08/2009

11.   (Uerj 2014 - Adaptada) O texto é centrado na expressão onomatopaica blablablá, que normalmente se escreve no lugar de uma longa fala irrelevante. A autora, no entanto, lhe empresta outro sentido e outra função. No texto, a expressão os blablablás se refere àqueles que:
a)       fazem fala irrelevante.
b)      tratam de assuntos banais.
c)       reprimem pessoas desatentas.
d)      discutem ética de espectadores.
e)      falam em momento inapropriado.

12.   (Uerj 2014 - Adaptada)  Isso era cinema.
 O verbo assume, nesta frase, o sentido específico de indicar um estado de coisas que durava.
No entanto, ele assume o sentido específico de indicar uma mudança sem retorno na seguinte reescritura:
a)       Isso foi o cinema.   
b)      Isso será o cinema.
c)       Isso seria o cinema. 
d)      Isso tem sido o cinema.   
e)      Isso teria sido o cinema.  
  

As duas manas Lousadas! Secas, escuras e gárrulas como cigarras, desde longos anos, em Oliveira, eram elas as esquadrinhadoras de todas as vidas, as espalhadoras de todas as maledicências, as tecedeiras de todas as intrigas. E na desditosa cidade, não existia nódoa, pecha, bule rachado, coração dorido, algibeira arrasada, janela entreaberta, poeira a um canto, vulto a uma esquina, bolo encomendado nas Matildes, que seus olhinhos furantes de azeviche sujo não descortinassem e que sua solta língua, entre os dentes ralos, não comentasse com malícia estridente.
(Eça de Queirós, A ilustre Casa de Ramires)

13.   (Fuvest 2000)  No texto, o emprego de artigos definidos e a omissão de artigos indefinidos têm como efeito, respectivamente,

a) atribuir às personagens traços negativos de caráter; apontar Oliveira como cidade onde tudo acontece.   
b) acentuar a exclusividade do comportamento típico das personagens; marcar a generalidade das situações que são objeto de seus comentários.   
c) definir a conduta das duas irmãs como criticável; colocá-las como responsáveis pela maioria dos acontecimentos na cidade.  
d) particularizar a maneira de ser das manas Lousadas; situá-las numa cidade onde são famosas pela maledicência.   
e) associar as ações das duas irmãs; enfatizar seu livre acesso a qualquer ambiente na cidade.   




(Uma empresa com prêmios internacionais não poderá oferecer menos do que a melhor qualidade em impressão digital do mundo)

14.   (ENEM) A rapidez é destacada como uma das qualidades do serviço anunciado, funcionando como estratégia de persuasão em relação ao consumidor do mercado gráfico. O recurso da linguagem verbal que contribui para esse destaque é o emprego
a) do termo “fácil” no início do anúncio, com foco no processo.
b) de adjetivos que valorizam a nitidez da impressão.
c) das formas verbais no futuro e no pretérito, em sequência.
d) da expressão intensificadora “menos do que” associada à qualidade.
e) da locução "do mundo" associada a "melhor", que quantifica a ação.

Texto para as questões 15, 16 e 17

Não era e não podia o pequeno reino lusitano ser uma potência colonizadora à feição da antiga Grécia. O surto marítimo que enche sua história do século XV não resultara do extravasamento de nenhum excesso de população, mas fora apenas provocado por uma burguesia comercial sedenta de lucros, e que não encontrava no reduzido território pátrio satisfação à sua desmedida ambição. A ascensão do fundador da Casa de Avis ao trono português trouxe esta burguesia para um primeiro plano. Fora ela quem, para se livrar da ameaça castelhana e do poder da nobreza, representado pela Rainha Leonor Teles, cingira o Mestre de Avis com a coroa lusitana. Era ela, portanto, quem devia merecer do novo rei o melhor das suas atenções. Esgotadas as possibilidades do reino com as pródigas dádivas reais, restou apenas o recurso da expansão externa para contentar os insaciáveis companheiros de D. João I.
Caio Prado Júnior, Evolução política do Brasil. Adaptado.

15.   (Fuvest 2012)  O pronome "ela" da frase "Era ela, portanto, quem devia merecer do novo rei o melhor das suas atenções", refere-se a
a)  “desmedida ambição”.   
b) “Casa de Avis”.   
c)  “esta burguesia”.   
d) “ameaça castelhana”.
e) “Rainha Leonor Teles”.   
   
  16.   (Fuvest 2012)  Infere-se da leitura desse texto que Portugal não foi uma potência colonizadora como a antiga Grécia, porque seu
a) peso político-econômico, apesar de grande para o século, não era comparável ao dela.   
b) interesse, diferentemente do dela, não era conquistar o mundo.   
c) aparato bélico, embora considerável para a época, não era comparável ao dos gregos.   
d) objetivo não era povoar novas terras, mas comercializar produtos nelas obtidos.   
e) projeto principal era consolidar o próprio reino, libertando-se do domínio espanhol.

17.   (Fuvest 2012)  No contexto, o verbo “enche” indica
a) habitualidade no passado.   
b) simultaneidade em relação ao termo “ascensão”.   
c) ideia de atemporalidade.   
d) presente histórico.   
e) anterioridade temporal em relação a “reino lusitano”.

18.   (Uel 2011)  Leia o texto a seguir.
      – Por que se demorou tanto na casa de banho?
      – Demorei, eu? Despachei-me enquanto o diabo esfregava o olho!
      – Esteve a cortar a unhas, eu bem escutei. [...]
      – Diga-se de paisagem, Constança: eu estava me bonitando para si.
      – Para mim?
(COUTO, Mia. O outro pé da sereia. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 229.)

      O trecho em negrito revela
a) início da ação, uma vez que aponta para o estado da personagem, expresso pelo verbo “estava”.
b) continuidade da ação, pois apresenta um evento prolongado, expresso pela palavra “bonitando”.
c) momento da ação, já que ela é posterior ao momento da fala, revelado pelo discurso direto.
d) simultaneidade de ações, pois, enquanto fala com Constança, a personagem vai se “bonitando”.
e) anterioridade de ações, visto que a personagem se dirige a Constança antes de se bonitar.  


19.   (G1 - ifsc 2014) Sobre a classe gramatical das palavras do texto, assinale a alternativa correta.
a) Como as personagens estão descrevendo a si mesmas, são abundantes os adjetivos, entre os quais se incluem azuis, atlético, magra e sensual.
b) Como a principal função do texto é descrever, nele não ocorrem verbos, que são próprios de textos narrativos.
c)  O único substantivo que aparece no texto é a palavra olhos, como seria de esperar em um diálogo em que as pessoas falam sobre si mesmas.
d)   Na fala da mulher, a palavra super, originalmente um prefixo, está sendo usada como um substantivo que caracteriza boca.
e)   A 1ª pessoa do singular é usada para a inclusão do leitor, mostrando que a mentira nas redes sociais é comum a todos.

20.   A Marinha do Brasil já recebe inscrições para um concurso público, com 38 vagas de oficiais, que será realizado neste ano. O edital publicado prevê 14 oportunidades para oficiais da armada e 24 para fuzileiros navais. A taxa cobrada é de R$ 55. Para participar da seleção, os interessados devem ter graduação em curso superior referente ao cargo pretendido e menos de 29 anos.
(Vida Ganha. Jornal Extra, 26 de julho de 2015, p. 3)
.
Considerando-se os dados explicitados, o objetivo do autor do texto é
a) divulgar um processo seletivo para possíveis interessados no cargo.
b) apresentar as especificidades de um concurso público e suas atribuições.
c) selecionar candidatos aptos a assumirem as vagas disponibilizadas no concurso.
d) viabilizar a aquisição de conhecimentos necessários para a realização do concurso.
e) permitir a seleção de candidatos desde que a taxa de inscrição seja devidamente paga.


__________________________________________________

GABARITO

01. B

02. D

03. C

04. A

05. C

06. A

07. B

08. D

09. A

10. C

11. E

12. A

13. D

14. C

15. C

16. D

17. D

18. B

19. A

20. A