quarta-feira, 25 de abril de 2018

Isabel - Luis Fernando Veríssimo

        Uma mulher - trinta e quatro, trinta e cinco anos, solteira, tímida, poucos amigos, morando sozinha - está um dia olhando os novos lançamentos numa livraria, pois seu maior prazer é a leitura, quando sente uma mão no seu braço e ouve uma voz de homem que diz:- Vamos?
            Ela vira-se, já pronta para repelir o homem rispidamente, co­mo faz com todos que ousam importuná-la, quando nota que o homem é cego. Fica sem saber o que dizer. O homem estranha o silêncio, aperta o seu braço e diz:
           - Isabel?
        E ela, sem saber por que, mas com a intuição de que a sua vida a partir daquele instante será outra, o coração batendo, diz: - Sim...- Vamos?
          E ela, o coração batendo:
          - Vamos.
        O homem é mais moço do que ela. Bonito. Bem vestido. Bem cuidado. Deixa-se guiar por ela, fazendo perguntas sem muito in­teresse. Por que estão pegando um táxi e não o carro? Ela diz que perdeu a chave do carro na rua. Ele sorri e diz "Você..." Quando chegam no apartamento dela ele pergunta onde estão. Ela diz "Em casa..." e ele diz "Estranho..." Mas não diz mais nada. Nem quan­do ela faz ele sentar numa poltrona que certamente não é a fa­vorita dele. Nem quando tira os seus sapatos, e afaga sua cabeça, e pergunta se ele quer alguma coisa antes do jantar. Só quando ela pergunta o que ele quer que ela faça para o jantar, diz:
         - Você vai cozinhar?
         -Vou.
         - E a cozinheira?
         - Despedi.
       Ele parece não se interessar muito. Perde-se dentro do aparta­mento à procura do quarto, pois quer trocar de roupa. Ela o guia de volta à cadeira. Diz que é para ele ficar quieto, deixar tudo com ela. E para si mesma diz: amanhã preciso comprar umas roupas pra ele. Ela capricha no jantar, que ele come em silêncio.
        Ele não comenta que a voz dela está diferente. Não acha mais nada estranho. Só na cama, quando ela o abraça, e guia a mão dele pelo seu corpo, ele começa a dizer:
          - Sabe...
          Mas ela cobre a boca dele com a sua.
         Era uma mulher solitária, nunca tivera ninguém para cuidar. E agora tinha um homem em casa. Um homem que precisava dela, que não podia fazer nada sem ela. Um homem que não podia ver o seu rosto.
         Cuidava dele, tinha certeza, melhor do que a mulher de ver­dade. Dava banho nele. Vestia-o com a roupa que ela escolhia e comprava. E à noite, na cama, amava-o como, tinha certeza, ne­nhuma mulher jamais o amara.
         Ela se perguntava se ele realmente acreditava que ela era a mulher dele. A voz. Não desconfiava da voz? E da súbita mudan­ça de vida? O desaparecimento de amigos, do resto da família... Mas como saber que vida ele levava com a outra?
       Convenceu-se que ele sabia que se enganara, aquele dia, na li­vraria, sabia que estava vivendo com outra mulher, mas que prefe­ria assim. Até que uma noite, na cama, depois de se amarem como todas as noites, ele de repente perguntou:
         - Você é mesmo a Isabel?
      Ela hesitou. Se dissesse "não" podia ouvir dele a frase "Eu sa­bia", e a confissão que preferia assim, e que a amava apesar dela ter-se passado pela outra, e mantê-lo preso naquele apartamento.     Mas também podia perdê-l o para sempre. Não arriscou. Respondeu:
         - Claro que sou. Que pergunta!
         Na manhã seguinte, quando ela acordou, ele não estava do seu lado na cama. Ela o encontrou na cozinha, morto. Tinha corta­do os pulsos com a faca do pão.
         Foi difícil explicar por que ela sabia tão pouco daquele ho­mem que vivia com ela e se matara na sua cozinha. Só sabia mes­mo o que estava na sua carteira. Foi a própria polícia que, dias de­pois, contou a ela tudo que ela não sabia. O homem ficara cego ainda em criança. Perdera os pais. Vivia sozinho com a irmã.
       - E a mulher - corrigiu ela, ainda zonza. Não conseguia pen­sar direito desde que descobrira o corpo na cozinha.
        - Não, não. Nunca casou. Viviam sozinhos, ele e a irmã. Ele tinha desaparecido. Se perdeu dela numa livraria e a irmã
estava preocupadíssima. 
        -Irmã?
        - É. Isabel.

Disponível em: http://bloguedogordo.blogspot.com.br/2009/06/apontamentos-para-uma-historia-de.html

segunda-feira, 9 de abril de 2018

O "Puxadinho da Ana Cris" em sala de aula

O "Puxadinho da Ana Cris" não é apenas um blog com divulgação de atividades e textos. Ele é, também, um facilitador do processo de ensino-aprendizagem ao ser utilizado dentro e fora da sala de aula. Quando os alunos realizam uma atividade presente no blog, podem interagir entre eles, tirar dúvidas com a professora e, de casa, podem continuar essa interação através de releitura da atividade ou de comentários na postagem.

Colégio Teresiano
2ª série do Ensino Médio









sexta-feira, 6 de abril de 2018

Transitividade verbal, complemento verbal e adjunto adverbial - Questões de Vestibular

Notícias de Gotham City

Imagino que todos tenham tido notícia do fato. No início de junho, ocorreu no Parque da Redenção, em Porto Alegre, outra jornada da Serenata Iluminada. A atividade é organizada via redes sociais e reúne milhares de jovens dispostos a ocupar os espaços públicos para garantir sua condição pública. No caso da Redenção, os manifestantes se opõem à proposta do cercamento que vem sendo cogitada há anos. Nas serenatas, 1levam velas, lanternas, violões, se divertem, debatem e se manifestam pacificamente.
Em um contexto de confiança-colaboração, as polícias se tornam muito mais eficientes e as taxas de impunidade caem significativamente. Já quando as pessoas não 3confiam nas polícias, elas deixam de registrar ocorrências, param de solicitar proteção e se recusam a colaborar.
A criminologia moderna acumulou 4toneladas de evidências a respeito das dinâmicas criminais que seguem desconsideradas no Brasil. Adultos, entretanto, deveriam saber que as pessoas não são, em si mesmas, boas ou más, mas boas e más; que todos possuímos qualidades e defeitos; Conceber que os milhares de jovens que se reuniam na Redenção naquela noite não eram “pessoas de bem” 2seria apenas ridículo, não estivéssemos falando de alguém 5a quem se confiou a responsabilidade de proteger pessoas, sem adjetivos.
(ROLIM, Marcos. Notícias de Gotham City. Disponível em: http://www.extraclasse.org.br. Adaptado.)

1. (Upf 2016)  A única alternativa em que o elemento sublinhado não corresponde ao complemento verbal, no contexto em que aparece, é:
a) “levam velas” (ref. 1).   
b) “seria apenas ridículo” (ref. 2).   
c) “confiam nas polícias” (ref. 3).   
d) “acumulou toneladas de evidências” (ref. 4).   
e) “a quem se confiou” (ref. 5).   
  
2. (Espcex 2014)  Assinale a alternativa que contém um complemento verbal pleonástico.  
a) Assistimos à missa e à festa.    
b) As moedas, ele as trazia no fundo do bolso.    
c) Deste modo, prejudicas-te e a ela.    
d) Atentou contra a própria vida e dos passageiros.    
e) Técnica e habilidade sobram-lhe e aos adversários.   
  
3. (Ibmecsp 2009)  Da leitura da tira é possível depreender que:

a) Considerando-se a regência do verbo "combater", pode-se constatar que, na verdade, não é possível empregar a crase.   
b) Há, na última fala, a clara intenção de apresentar um jogo de palavras, fazendo um trocadilho com as palavras "crase" e "crise".   
c) Não ocorrerá crase apenas se o verbo "combater" for empregado como intransitivo, ou seja, se ele não exigir complemento verbal.   
d) Haverá crase se a "sombra" representar o modo como será combatido, isto é, com função de adjunto adverbial.   
e) A última fala é uma explicação de que, nesse caso, a crase é facultativa, preservando-se o mesmo sentido.   
  
4. (G1 - ifal 2018)  Considerando que o verbo estar pode ser interpretado como sendo verbo de ligação, se indica apenas um estado, ou verbo intransitivo, se a estada em determinado local, assinale a opção em que, no par de sentenças, o verbo estar seja verbo de ligação na primeira sentença e verbo intransitivo na segunda.

a) Astrogildo estava em casa. Ele estava cansado.    
b) Astrogildo estava cansado. Por isso ele estava em casa.    
c) Adalgiza está cansada. Ela está doente.   
d) Publílio está em casa. Ele está em Maceió.    
e) Epafrodito está no sítio do tio. Ele está em Rio Largo.    

Marte é o Futuro

O pouso na Lua não foi só o ápice da corrida espacial. Foi também o passo inicial do turbocapitalismo que dominaria as três décadas seguintes. Dependente, porém, de matérias-primas do século 19: aço, carvão, óleo. 5Lançar-se ao espaço implicava algum reconhecimento dos limites da Terra. Ela era azul, mas finita. Com o império da tecnociência, ascendeu também sua nêmese, o movimento ambiental. Fixar Marte como objetivo para dentro de 20 ou 30 anos, hoje, parece 2tão louco quanto chegar à Lua em dez, como determinou John F. Kennedy. 6Não há um imperialismo visionário como ele à vista, e isso é bom. 7A ISS (estação espacial internacional) representa a prova viva de que certas metas só podem ser alcançadas pela humanidade como um todo, não por 1nações forjadas no tempo das caravelas. 8Marte é o futuro da humanidade. 9Ele nos fornecerá a experiência vívida e a imagem perturbadora de um planeta devastado, inabitável. Destino certo da Terra em vários milhões de anos. 3Ou, mais provável, em poucas décadas, 4se prosseguir o saque a descoberto da energia fóssil pelo hipercapitalismo globalizado, inflando a bolha ambiental.
(Adaptado de: LEITE, M. Caderno Mais!. Folha de São Paulo. São Paulo, domingo, 26 jul. 2009. p. 3.)

5. (Uel 2010)  Quanto à predicação verbal, é correto afirmar:
a) Em “Lançar-se ao espaço implicava algum reconhecimento” (ref. 5), o verbo implicar, nesse contexto, é um verbo transitivo direto, por isso seu complemento não exige preposição.   
b) Em “Não há um imperialismo visionário como ele à vista” (ref. 6), o verbo haver é considerado um verbo de ligação, pois estabelece relação entre sujeito e seu predicativo.   
c) Em “A ISS (estação espacial internacional) representa a prova viva” (ref. 7), o verbo representar é intransitivo, portanto, não necessita complemento.   
d) Em “Marte é o futuro da humanidade” (ref. 8), o verbo ser é classificado como verbo transitivo direto e indireto, ou seja, possui um complemento precedido de preposição e outro não.   
e) Em “Ele nos fornecerá a experiência vívida e a imagem” (ref. 9), o verbo fornecer é classificado como verbo defectivo, pois não apresenta a conjugação completa.   

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Gato gato gato

Familiar aos cacos de vidro inofensivos, o gato caminhava molengamente por cima do muro. O menino ia erguer-se, apanhar um graveto, respirar o hálito fresco do porão. Sua úmida penumbra. Mas a presença do gato. O gato, que parou indeciso, o rabo na pachorra de uma quase interrogação.
O pelo do gato para alisar. Limpinho, o quente contato da mão no dorso, corcoveante e nodoso à carícia. O lânguido sono de morfinômano. O marzinho de leite no pires e a língua secreta, ágil. A ninhada de gatos, os trêmulos filhotes de olhos cerrados. O novelo, a bola de papel – o menino e o gato brincando. Gato lúdico. O gatorro, mais felino do que o cachorro é canino. Gato persa, gatochim – o espirro do gato de olhos orientais. Gato de botas, as aristocráticas pantufas do gato. A manha do gato, gatimanha: teve um gata miolenta em segredo chamada Alemanha.
1Em cima do muro, o gato recebeu o aviso da presença do menino. Ondulou de mansinho alguns passos denunciados apenas na branda alavanca das ancas. Passos irreais, em cima do muro eriçado de cacos de vidro. E o menino songa-monga, quietinho, conspirando no quintal, acomodado com o silêncio de todas as coisas.
OTTO LARA RESENDE. BOSI, Alfredo. O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo: Cultrix, 1975.

6. (Uerj 2014)  Em cima do muro, o gato recebeu o aviso da presença do menino. (ref. 1)

O adjunto adverbial que ocorre neste enunciado pode ser deslocado para outras posições; em uma delas, porém, a frase se tornará ambígua.
Reescreva o enunciado duas vezes com o deslocamento do adjunto, de modo a manter o sentido original em uma e a criar ambiguidade em outra. Aponte, também, a construção ambígua e explique-a.
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7. (Pucrj 2013) 
Apesar de consideradas pela crítica, durante muito tempo, uma manifestação menor da literatura, as narrativas de viagem viveram momentos de glória no passado. Inúmeros escritores se dedicaram ao gênero, e eram muitos os leitores aficionados pelos relatos de aventuras. Na forma de diários, memórias ou simplesmente impressões de viagens, os textos surgiam aos borbotões, nos séculos XVIII e XIX, ora inspirados pelo Velho, ora pelo Novo Mundo, expressando sempre o olhar fascinado, a curiosidade e o desejo do viajante de deixar registrada a sua experiência, que ele julgava ímpar.
DUARTE, Constância Lima; MUZZART, Zahidé Lupinacci. 2008.

a) A diferença de sentido entre as frases abaixo é decorrente da posição do adjunto adverbial “durante muito tempo”. Justifique essa afirmativa, explicitando a diferença.
i. “Apesar de consideradas pela crítica, durante muito tempo, uma manifestação menor da literatura, as narrativas de viagem viveram momentos de glória no passado.”
ii. Apesar de consideradas pela crítica uma manifestação menor da literatura, as narrativas de viagem, durante muito tempo, viveram momentos de glória no passado.
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A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais.
Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando.
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico, se o tinha, o bairro por onde andava e a quantia de gratificação. Quando não vinha a quantia, vinha promessa: “gratificar-se-á generosamente” – ou “receberá uma boa gratificação”. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoitasse.
(Contos: uma antologia, 1998.)

8. (Unesp 2018)  “Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse.” (3º parágrafo). Na oração em que está inserido, o termo destacado é um verbo que pede
a) apenas objeto direto, representado pelo vocábulo “lho”.   
b) objeto direto e objeto indireto, ambos representados pelo vocábulo “lho”.   
c) objeto direto, representado pelo vocábulo “dinheiro”, e objeto indireto, representado pelo vocábulo “lho”.   
d) apenas objeto indireto, representado pelo vocábulo “quem”.   
e) objeto direto, representado pelo vocábulo “dinheiro”, e objeto indireto, representado pelo vocábulo “quem”.   
  
9. (Espcex (Aman) 2016)  Assinale a oração em que o termo ou expressão grifados exerce a função de Objeto Indireto.
a) Cumprimentei-as respeitosamente.   
b) Perderam-na para sempre.   
c) Amava mais a ele que aos outros.   
d) Eu culpo a tudo e a todos.   
e) Obedeceu-lhe prontamente.   

É, suponho que é em mim, como um dos representantes de nós, que devo procurar por que está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que mataram Mineirinho do que os seus crimes.
Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais. Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos. Até que treze tiros nos acordam, e com horror digo tarde demais – vinte e oito anos depois que Mineirinho nasceu – que ao homem acuado, que a esse não nos matem. Porque sei que ele é o meu erro. E de uma vida inteira, por Deus, o que se salva às vezes é apenas o erro, e eu sei que não nos salvaremos enquanto nosso erro não nos for precioso. Meu erro é o meu espelho, onde vejo o que em silêncio eu fiz de um homem. Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na sua carne e me espantei, e vi a matéria de vida, placenta e sangue, a lama viva. Em Mineirinho se rebentou o meu modo de viver.
(Clarice Lispector. Para não esquecer, 1999.)

10. (Unifesp 2016)  “Até que treze tiros nos acordam, e com horror digo tarde demais – vinte e oito anos depois que Mineirinho nasceu – que ao homem acuado, que a esse não nos matem.” (2º parágrafo) Os termos “a esse” e “nos” constituem, respectivamente,

a) objeto indireto e objeto direto.   
b) objeto indireto e objeto indireto.   
c) objeto direto preposicionado e objeto direto.   
d) objeto direto preposicionado e objeto indireto.   
e) objeto direto e objeto indireto.   


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GABARITO



01.   B

02.   B

03.   D

04.   B

05.   A

06.    O gato recebeu o aviso da presença do menino em cima do muro. Com este deslocamento do adjunto adverbial, tem-se a impressão de que o menino também está em cima do muro, gerando a ambiguidade exigida pela questão.
O gato recebeu, em cima do muro, o aviso da presença do menino. Com este deslocamento não temos mudança no sentido da oração.  

07.   Em i, o adjunto adverbial incide sobre o verbo considerar e, em ii, modifica o verbo viver.  

08.   B

09.   E


10.   C

Exagero formal

É inegável a importância de se usar a norma padrão da Língua Portuguesa em contextos formais. No entanto, se feito de forma exagerada, seu uso pode parecer apenas uma busca por puritanismos linguísticos que já não existem mais em nosso idioma.
   Para debater essa temática, os alunos Pedro Martelleto e Victor Terra, do Colégio Teresiano, criaram o texto a seguir, com diversas referências e correlações.
Boa leitura!


Exagero Formal

A Revolução Francesa gerou vários desdobramentos na história que afetam o mundo até hoje. Em particular, o estudo formal das línguas passou a ser introduzido nas diferentes sociedades europeias. Após tal movimento, percebeu-se o surgimento de uma nova manifestação literária: o romantismo. Junto dela, um processo de escolarização, com destaque ao estudo das línguas, começou a ser difundido, inicialmente, pela Europa. Não tardou muito para que os ideais românticos chegassem ao Brasil, lugar esse que sofreu grande influência tanto da cultura portuguesa quanto da língua lusitana. Contudo, a era contemporânea trouxe consigo diversas reflexões sobre o quanto os brasileiros devem se ater aos detalhes da escrita portuguesa.
            A partir dessas ponderações, dois principais pontos de vista ganharam destaque. De um lado, encontram-se aqueles que defendem atrozmente o uso da norma culta da língua portuguesa não só ao longo da escrita formal, mas também durante a fala. Ao mesmo tempo, existem os que defendem a língua sem arcaísmos, ou seja, sem construções frasais mirabolantes, e, principalmente, sem caracterizar a norma culta como aquilo que é perfeito e incontestável.
Os primeiros acreditam que, pelo fato de a língua dos brasileiros derivar da língua dos portugueses, ela deveria ser um cópia exata da mesma. Logo, em sua interpretação, mesóclises e ênclises deveriam ser usadas sempre que a norma padrão - criada há séculos - demandar. Entretanto, é de suma importância lembrar que o idioma não é um objeto estático, isto é, inevitavelmente transforma-se ao longo do tempo. A língua é a “contribuição milionária de todos os erros”, como disse o escritor brasileiro Oswald de Andrade em 2001.
Já por parte daqueles que são a favor da língua sem arcaísmos, é defendida uma visão mais relativista em termos culturais. Assim, segundo tal grupo, deve ser considerado que, devido à discrepância entre o povo brasileiro e o português, torna-se necessário adaptar a língua tupiniquim a um “estilo próprio”. Como já dizia Manuel Bandeira, é preciso ter “a coragem de falar e escrever errado”. Em outras palavras, não há motivo para se escrever de uma forma diferente da qual se utiliza para a fala do cotidiano. De acordo com esse grupo, a erudição deveria dar lugar à forma natural e neológica da língua.
Devido ao fato de a língua estar sempre se alterando, é inevitável que novas expressões e estruturas gramaticais surjam. Logo, evidencia-se a necessidade de sistematizar e estudar a língua aceitando imprecisões, sem que a norma culta suprima o seu poder de dinamização e com o cuidado para se manter a estrutura lógica da mesma. Devemos ter, portanto, a percepção de que algo arcaico, muitas vezes, é naturalmente substituído por uma nova expressão ou por um novo modo de se formular certo período.


O texto acima foi criado por Pedro Martelleto e Victor Terra, alunos do Colégio Teresiano (2ª série do Ensino Médio)