01.
(Pucrj 2017)
Tentação
Ela estava com soluço. E como se não
bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.
A menina abriu os olhos pasmada.
Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos
se olhavam.
Entre tantos seres que estão prontos para
se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter
aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos,
fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a
desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e
continuou a fitá-lo.
Os pelos de ambos eram curtos,
vermelhos.
Que foi que se disseram? Não se sabe.
Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se
também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento,
surpreendidos.
LISPECTOR, Clarice. A
legião estrangeira. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964, p. 67-69
Ternura
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus
ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente
fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
MORAES, Vinicius de. Antologia
poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p.92-3.
a) No poema Ternura, o eu
lírico dirige-se à amada usando a 2ª pessoa tu. Reescreva o verso a seguir,
substituindo os pronomes oblíquos sublinhados por seus correspondentes, de modo
que a 2ª pessoa empregada passe a ser “você”.
“Eu te
peço perdão por te amar de repente”
b) Em “Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia
tempo.” (8º parágrafo do conto Tentação),
a palavra “se” apresenta dois comportamentos distintos. Explique a diferença de
sentido entre eles.
02.
(Pucrj 2013)
De um lado, a loucura existe em relação
à razão ou, pelo menos, em relação aos “outros” que, em sua generalidade anônima,
encarregam-se de representá-la e atribuir-lhe valor de exigência; por outro
lado, ela existe para a razão, na medida em que surge ao olhar de uma
consciência ideal que a percebe como diferença em relação aos outros. A loucura
tem uma dupla maneira de postar-se diante da razão: ela está ao mesmo tempo do
outro lado e sob seu olhar. Do outro lado: a loucura é diferença imediata,
negatividade pura, aquilo que se denuncia como não-ser, numa evidência irrecusável;
é uma ausência total de razão, que logo se percebe como tal, sobre o fundo das estruturas
do razoável. Sob o olhar da razão: 1a loucura é individualidade
singular cujas características próprias, a conduta, a linguagem, os gestos,
distinguem-se uma a uma daquilo que se pode encontrar no não-louco; em sua
particularidade ela se desdobra para uma razão que não é termo de referência
mas princípio de julgamento; a loucura é então considerada em suas estruturas
do racional.
FOUCAULT,
Michel. História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Ed.
Perspectiva, 1972. p.203.
a) Com relação ao trecho “A loucura
tem uma dupla maneira de postar-se diante da razão: ela está ao mesmo
tempo do outro lado e sob seu olhar.”, extraído do texto, identifique o
referente do pronome destacado, iniciando a sua resposta da seguinte forma:
O referente do pronome _______.
03.
(Pucrj 2013)
Apesar de consideradas pela crítica, durante muito
tempo, uma manifestação menor da literatura, as narrativas de viagem viveram
momentos de glória no passado. Inúmeros escritores se dedicaram ao gênero, e
eram muitos os leitores aficionados pelos relatos de aventuras. Na forma de
diários, memórias ou simplesmente impressões de viagens, os textos surgiam aos
borbotões, nos séculos XVIII e XIX, ora inspirados pelo Velho, ora pelo Novo Mundo,
expressando sempre o olhar fascinado, a curiosidade e o desejo do viajante de
deixar registrada a sua experiência, que ele julgava ímpar.
Na Europa, os destinos mais buscados
eram a Alemanha, a Itália e a Espanha, fosse pela mitologia, pela glória passada
ou pela profusão de ruínas históricas. 1E não importava se a viagem durasse semanas, meses ou anos;
interessava relatá-la e assim se inscrever na tradição do gênero. Dentre os
mais ilustres viajantes, Goethe, Mme. de Stäel, Victor Hugo, Michelet, Lamartine
e Mérimée foram autores que incentivaram outros escritores a também excursionar
e a escrever sobre as novas terras.
DUARTE,
Constância Lima; MUZZART, Zahidé Lupinacci. Pensar o outro ou quando as mulheres viajam.
Setembro/dezembro. 2008.
Com base na frase abaixo, extraída do
texto 1, determine a diferença que se estabelece entre os dois empregos da
palavra se.
“E não importava se a viagem
durasse semanas, meses ou anos; interessava relatá-la e assim se inscrever
na tradição do gênero.” (ref. 1)
04. (Pucrj 2007)
Na
Idade Média, no início dos tempos modernos, e por muito tempo ainda nas classes
populares, as crianças misturavam-se com os adultos assim que eram consideradas
capazes de dispensar a ajuda das mães ou das amas, poucos anos depois de um
desmame - ou seja, aproximadamente, aos sete anos de idade.
A
família moderna retirou da vida comum não apenas as crianças, mas uma grande
parte do tempo da preocupação dos adultos. Ela correspondeu a uma necessidade
de intimidade e também de identidade: os membros da família se unem pelo
sentimento, o costume e o gênero de vida. As promiscuidades impostas pela
antiga sociabilidade lhes repugnam. Compreende-se que essa ascendência moral da
família tenha sido originariamente um fenômeno burguês: a alta nobreza e o
povo, situados nas duas extremidades da escala social conservaram por mais
tempo as boas maneiras tradicionais, e permaneceram indiferentes à pressão
exterior. Em várias ocasiões, ao longo deste estudo, vimos que eles se
cruzavam. Durante séculos os mesmos jogos foram comuns às diferentes condições
sociais; a partir do início dos tempos modernos, porém, operou-se uma seleção
entre eles: alguns foram reservados aos bem-nascidos, enquanto outros foram
abandonados ao mesmo tempo às crianças e ao povo. As escolas de caridade do
século XVII, fundadas para os pobres, atraíam também as crianças ricas. Mas a
partir do século XVIII, as famílias burguesas não aceitaram mais essa mistura,
e retiraram suas crianças daquilo que se tornaria um sistema de ensino primário
popular, para colocá-las nas pensões ou nas classes elementares dos colégios,
cujo monopólio conquistaram. Os jogos e as escolas, inicialmente comuns ao
conjunto da sociedade, ingressaram então num sistema de classes. Foi como se um
corpo social polimorfo e rígido se desfizesse e fosse substituído por uma
infinidade de pequenas sociedades - as famílias - e por alguns grupos maciços -
as classes. As famílias e as classes reuniam indivíduos que se aproximavam por
sua semelhança moral e pela identidade de seu gênero de vida. O antigo corpo
social único, ao contrário, englobava a maior variedade possível de idades e
condições.
Aries, Philippe. Historia Social da
Criança e da Família. 2ª ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1981. pp. 194-6.
Em "a partir do início dos tempos modernos,
porém, operou-se uma seleção entre eles (...)", a palavra SE é um pronome
apassivador, que constitui também um recurso linguístico de indeterminação do
agente da ação verbal. Transcreva do texto outro exemplo em que a palavra SE
tenha sido empregada com essa mesma função.
05.
(Enem 2009)
Observando as falas das personagens, analise o
emprego do pronome se e o sentido
que adquire no contexto. No contexto da narrativa, é correto afirmar que o
pronome se,
a) em I, indica reflexividade e equivale a
"a si mesmas".
b) em II, indica reciprocidade e equivale
a "a si mesma".
c) em III, indica reciprocidade e equivale
a "uma às outras".
d) em I e III, indica reciprocidade e equivale
a "uma às outras".
e) em II e III, indica reflexividade e
equivale a "a si mesma" e "a si mesmas", respectivamente.
06.
(Enem 2012)
As palavras e as expressões são mediadoras dos
sentidos produzidos nos textos. Na fala de Hagar, a expressão “é como se” ajuda
a conduzir o conteúdo enunciado para o campo da
a) conformidade, pois as condições meteorológicas evidenciam um acontecimento ruim.
b) reflexibilidade, pois o personagem se refere aos tubarões usando um pronome reflexivo.
c) condicionalidade, pois a atenção dos personagens é a condição necessária para a sua sobrevivência.
d) possibilidade, pois a proximidade dos tubarões leva à suposição do perigo iminente para os homens.
e) impessoalidade, pois o personagem usa a terceira pessoa para expressar o distanciamento dos fatos.
a) conformidade, pois as condições meteorológicas evidenciam um acontecimento ruim.
b) reflexibilidade, pois o personagem se refere aos tubarões usando um pronome reflexivo.
c) condicionalidade, pois a atenção dos personagens é a condição necessária para a sua sobrevivência.
d) possibilidade, pois a proximidade dos tubarões leva à suposição do perigo iminente para os homens.
e) impessoalidade, pois o personagem usa a terceira pessoa para expressar o distanciamento dos fatos.
07. (Uel
2010)
O labirinto da internet
Um paradoxo da cultura contemporânea é a incapacidade da maioria dos
políticos de entender a comunicação política. Essa disfunção provoca, muitas
vezes, resultados trágicos. É o caso da lei votada pela Câmara dos
Deputados para regular o uso da internet nas eleições. Se aprovada sem
mudanças pelo Senado, vai provocar um forte retrocesso numa área em que o
Brasil, quase milagrosamente, se destaca no mundo – sua legislação de
comunicação eleitoral. Sim, a despeito da má vontade de alguns e, a partir daí,
de certos equívocos interpretativos, o Brasil tem uma das mais modernas
legislações de comunicação eleitoral do mundo.
(Adaptado de: SANTANA, João. O labirinto da internet. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/).
Observe o parágrafo: “Se aprovada sem mudanças pelo Senado, [a
lei] vai provocar um forte retrocesso numa área em que o Brasil, quase
milagrosamente, se destaca no mundo – sua legislação de comunicação
eleitoral.”
Assinale a alternativa que expressa corretamente a função sintática das
duas palavras sublinhadas.
a) Pronome apassivador e
índice de indeterminação do sujeito.
b) Pronome apassivador e
pronome integrante do verbo.
c) Conjunção subordinativa condicional e
pronome integrante do verbo.
d) Pronome integrante do verbo
e conjunção subordinativa causal.
e) Conjunção subordinativa
condicional e índice de indeterminação do sujeito.
08.
(Eear 2017)
Assinale a alternativa em que o se é índice de indeterminação do sujeito na frase.
Assinale a alternativa em que o se é índice de indeterminação do sujeito na frase.
a) Não se ouvia o barulho.
b) Perdeu-se um gato de estimação.
c) Precisa-se de novos candidatos
militares.
d) Construíram-se casas e apartamentos na
rua pacata.
09. (Espcex (Aman) 2013) Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação da
partícula “se”, na sequência em que
aparece no período abaixo.
O maquinista se perguntava se a próxima parada seria tão
tumultuada quanto a primeira, com aquelas pessoas todas se debatendo, os
bilhetes avolumando nas mãos do cobrador, os reclamos que se ouviam dos
mais exaltados.
a) objeto indireto – conectivo integrante
– parte do verbo – partícula apassivadora
b) objeto direto – conectivo integrante –
pronome reflexivo – partícula apassivadora
c) objeto direto – conjunção integrante –
pronome recíproco – indeterminação do sujeito
d) objeto indireto – conjunção integrante
– pronome reflexivo – partícula apassivadora
e) objeto
direto – conectivo integrador – pronome oblíquo – partícula apassivadora
………………………………………………………………………………………
Gabarito:
Resposta da questão 1:
a) O primeiro pronome substitui um termo com
preposição e, assim, é preciso usar o oblíquo “lhe”. Já o segundo pronome
substitui um termo sem preposição e feminino e, assim, é preciso usar o pronome
oblíquo “a”. Tem-se, então: Eu lhe peço perdão por amá-la de
repente./ Eu lhe peço perdão por a amar de repente. (sendo que o “lhe” também
pode aparecer depois do verbo: “peço-lhe”).
b) No primeiro
caso, “se” é um índice de indeterminação do sujeito, tornando o sujeito da ação
indefinido. Já no segundo caso, “se” é um pronome reflexivo, indicando
reciprocidade na ação de comunicar.
Resposta da questão 2:
O referente do pronome se é loucura
Resposta da questão 3:
No seu primeiro emprego a palavra se é conjunção
integrante, introduz uma oração subordinada substantiva e traz o sentido de
possibilidade. No segundo emprego, a palavra se é pronome pessoal
oblíquo com valor reflexivo.
Resposta da questão 4:
"Compreende-se que essa ascendência moral da
família tenha sido originariamente um fenômeno burguês (...)"
Resposta da questão 5: [E]
Em II, a pergunta de Susaninha revela
que ela não entendeu a colocação de Mafalda, quando esta associou o natal a uma
celebração coletiva em que as pessoas se amam mais umas às outras. Ao
contrário, Susaninha expressa a sua personalidade narcisista e entende o
pronome “se” com o sentido de reflexividade: “a si mesma” e “a si mesmas”,
respectivamente.
Resposta da questão 6: [D]
É correta a opção [D], pois a presença
dos tubarões seguindo a embarcação permite que Hagar infira a possibilidade de
perigo iminente e expresse essa suposição na frase “é como se eles soubessem
que algo ruim vai acontecer”.
Resposta da questão 7: [C]
No início da frase, o conectivo “se” é
uma conjunção subordinativa condicional, pois estabelece a relação de condição
para que aconteça a ação da oração principal “[ a lei] vai provocar um forte
retrocesso numa área”. Na segunda ocorrência, como faz parte do verbo
pronominal destacar-se, é pronome
integrante do verbo.
Resposta da questão 8: [C]
Nas alternativas [A], [B] e [D], os verbos
(“ouvia-se”, “perdeu-se”, “construíram-se”) estão na voz passiva sintética e
são acompanhados de sujeitos pacientes (“o barulho”, “um gato de estimação” e
“casas e apartamentos”). O mesmo não
ocorre na [C], em que o verbo “precisar” é transitivo indireto, “de novos
candidatos militares” é objeto direto e o “se” é o índice de indeterminação do
sujeito.
Assim, a única alternativa correta é a
[C].
Resposta da questão 9: [A]
Relativamente à partícula “se”, é correto afirmar
que:
Em “O maquinista se perguntava (a si mesmo)” é pronome reflexivo com
função de objeto indireto; em “se a próxima parada seria tão tumultuada”
é conjunção subordinativa integrante de oração substantiva objetiva direta; em
“com aquelas pessoas todas se debatendo”, o verbo “debater”, no sentido
de agitar, é pronominal, ou seja, não
pode ser conjugado independentemente do seu pronome; o trecho “que se
ouviam dos mais exaltados” constitui uma oração na voz passiva sintética com
verbo acompanhado de partícula apassivadora, equivalente a que eram ouvidos dos mais exaltados na voz passiva analítica.
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