sexta-feira, 6 de abril de 2018

Exagero formal

É inegável a importância de se usar a norma padrão da Língua Portuguesa em contextos formais. No entanto, se feito de forma exagerada, seu uso pode parecer apenas uma busca por puritanismos linguísticos que já não existem mais em nosso idioma.
   Para debater essa temática, os alunos Pedro Martelleto e Victor Terra, do Colégio Teresiano, criaram o texto a seguir, com diversas referências e correlações.
Boa leitura!


Exagero Formal

A Revolução Francesa gerou vários desdobramentos na história que afetam o mundo até hoje. Em particular, o estudo formal das línguas passou a ser introduzido nas diferentes sociedades europeias. Após tal movimento, percebeu-se o surgimento de uma nova manifestação literária: o romantismo. Junto dela, um processo de escolarização, com destaque ao estudo das línguas, começou a ser difundido, inicialmente, pela Europa. Não tardou muito para que os ideais românticos chegassem ao Brasil, lugar esse que sofreu grande influência tanto da cultura portuguesa quanto da língua lusitana. Contudo, a era contemporânea trouxe consigo diversas reflexões sobre o quanto os brasileiros devem se ater aos detalhes da escrita portuguesa.
            A partir dessas ponderações, dois principais pontos de vista ganharam destaque. De um lado, encontram-se aqueles que defendem atrozmente o uso da norma culta da língua portuguesa não só ao longo da escrita formal, mas também durante a fala. Ao mesmo tempo, existem os que defendem a língua sem arcaísmos, ou seja, sem construções frasais mirabolantes, e, principalmente, sem caracterizar a norma culta como aquilo que é perfeito e incontestável.
Os primeiros acreditam que, pelo fato de a língua dos brasileiros derivar da língua dos portugueses, ela deveria ser um cópia exata da mesma. Logo, em sua interpretação, mesóclises e ênclises deveriam ser usadas sempre que a norma padrão - criada há séculos - demandar. Entretanto, é de suma importância lembrar que o idioma não é um objeto estático, isto é, inevitavelmente transforma-se ao longo do tempo. A língua é a “contribuição milionária de todos os erros”, como disse o escritor brasileiro Oswald de Andrade em 2001.
Já por parte daqueles que são a favor da língua sem arcaísmos, é defendida uma visão mais relativista em termos culturais. Assim, segundo tal grupo, deve ser considerado que, devido à discrepância entre o povo brasileiro e o português, torna-se necessário adaptar a língua tupiniquim a um “estilo próprio”. Como já dizia Manuel Bandeira, é preciso ter “a coragem de falar e escrever errado”. Em outras palavras, não há motivo para se escrever de uma forma diferente da qual se utiliza para a fala do cotidiano. De acordo com esse grupo, a erudição deveria dar lugar à forma natural e neológica da língua.
Devido ao fato de a língua estar sempre se alterando, é inevitável que novas expressões e estruturas gramaticais surjam. Logo, evidencia-se a necessidade de sistematizar e estudar a língua aceitando imprecisões, sem que a norma culta suprima o seu poder de dinamização e com o cuidado para se manter a estrutura lógica da mesma. Devemos ter, portanto, a percepção de que algo arcaico, muitas vezes, é naturalmente substituído por uma nova expressão ou por um novo modo de se formular certo período.


O texto acima foi criado por Pedro Martelleto e Victor Terra, alunos do Colégio Teresiano (2ª série do Ensino Médio)

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