domingo, 14 de fevereiro de 2021

Análise e reescrita de marchinhas de Carnaval

 Marchinhas politicamente incorretas estão na mira dos blocos do Rio

Frederico Goulart


Entre as canções censuradas estão hinos como "O teu cabelo não nega", "Cabeleira do Zezé" e "Maria Sapatão". A polêmica divide opiniões: há quem defenda o caráter democrático da festa, já os críticos, dizem que as músicas ofensivas não devem fazer parte de uma manifestação popular.Parte inferior do formulário

Foi das mãos do compositor Lamartine Babo que, em 1932, nasceu um dos hinos do carnaval brasileiro. Hoje, 84 depois, "O teu cabelo não nega", encontra-se no centro de uma polêmica que agita o carnaval de Rua do Rio: afinal, qual deve ser o espaço das letras politicamente incorretas na festa? Há quem defenda uma lista de canções proibidas, na qual também estariam marchinhas como "Cabeleira do Zezé" e "Maria Sapatão". 

Algumas dessas músicas já estão fora do repertório do Bloco Mulheres Rodadas - que surgiu do movimento feminista. Uma das componentes do grupo, Renata Rodrigues diz que o corte de determinadas letras acontece após discussões internas. Ela defende que letras ofensivas não devem ter espaço em uma manifestação popular.

 O veto às marchinhas de letras polêmicas está longe de ser um consenso, até mesmo entre os componentes de cada bloco. No Céu na Terra, tradicional grupo carnavalesco do Rio, a decisão de retirar "O teu cabelo não nega" do repertório não agradou a todos, como explica o diretor Péricles Monteiro.  

Na visão de Rodrigo Rezende, presidente da Liga Carnavalesca Amigos do Zé Pereira - organização que reúne alguns dos principais blocos da cidade -, a discussão é importante. Mas não se pode perder de vista o caráter democrático da festa.

Ricardo Cravo Albin, pesquisador e crítico musical, não mede as palavras para criticar a censura. Para ele, cada momento tem seu tempo, e é uma tolice a desconstrução do que foi consolidado no passado e na alma popular.  Ele defende que temas como a mulher, a cor da pele e a homossexualidade sempre foram cantados durante o carnaval. Apagar isso seria negar a própria história da festa.

 Disponível em: http://cbn.globoradio.globo.com/editorias/cultura/2017/01/24.htm

 

 Essa discussão não se restringe às marchinhas. Veja a seguinte versão da cantiga popular “Atirei o pau no gato”:

 

Atirei o Pau no Gato

Atirei o pau no gato tô tô
Mas o gato tô tô
Não morreu reu reu
Dona Chica cá
Admirou-se se
Do berro, do berro que o gato deu:
Miau!

 

Não Atire o Pau No Gato

Não atire o pau no gato (to-to)
Porque isso (Isso-Isso)
Não se faz (faz-faz)
O gatinho (nho-nho)
É nosso amigo (go-go)
Não devemos maltratar
Os Animais
Miau!


Explique por que essa cantiga foi considerada politicamente incorreta, tal como as marchinhas sinalizadas no texto de Frederico Goulart.

·         Identifique as estratégias linguísticas utilizadas na música “Não atire o pau no gato” para que a letra original deixe de ser politicamente incorreta.


Analisando e reinventando marchinhas

 Abaixo, há exemplos de marchinhas que já foram retiradas de alguns blocos de carnaval do Rio de Janeiro. Analise-as e procure entender o porquê de terem sido proibidas. Em seguida, crie uma versão das mesmas, possibilitando sua permanência em todos os blocos carnavalescos.

 01.   Cabeleira do Zezé

Olha a cabeleira do Zezé
Será que ele é?
Será que ele é?

Olha a cabeleira do Zezé
Será que ele é?
Será que ele é?

Será que ele é bossa nova?
Será que ele é Maomé?
Parece que é transviado
Mas isso eu não sei se ele é

Corta o cabelo dele!
Corta o cabelo dele!
Corta o cabelo dele!
Corta o cabelo dele!

 

02.        Maria Sapatão

Maria Sapatão
Sapatão, Sapatão
De dia é Maria
De noite é João

Maria Sapatão
Sapatão, Sapatão
De dia é Maria
De noite é João

O sapatão está na moda
O mundo aplaudiu
É um barato, é um sucesso
Dentro e fora do Brasil

 03.   Índio quer apito

Ê, ê, ê, ê, ê, Índio quer apito
Se não der, pau vai comer!
Ê, ê, ê, ê, ê, Índio quer apito
Se não der, pau vai comer!

Lá no bananal mulher de branco
Levou pra pra índio colar esquisito
Índio viu presente mais bonito
Eu não quer colar! Índio quer apito!

Ê, ê, ê, ê, ê, Índio quer apito
Se não der, pau vai comer!
Ê, ê, ê, ê, ê, Índio quer apito
Se não der, pau vai comer!

 

 04.        O Teu Cabelo Não Nega

O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, eu quero o teu amor

O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, eu quero o teu amor

Tens um sabor bem do Brasil
Tens a alma cor de anil
Mulata, mulatinha, meu amor
Fui nomeado teu tenente interventor

O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, eu quero o teu amor

 05.        A Pipa do Vovô

A pipa do vovô não sobe mais
A pipa do vovô não sobe mais
Apesar de fazer muita força
O vovô foi passado pra trás!

A pipa do vovô não sobe mais
A pipa do vovô não sobe mais
Apesar de fazer muita força
O vovô foi passado pra trás!

Ele tentou mais uma empinadinha
A pipa não deu nenhuma subidinha
Ele tentou mais uma empinadinha
A pipa não deu nenhuma subidinha

A pipa do vovô não sobe mais
A pipa do vovô não sobe mais
Apesar de fazer muita força
O vovô foi passado pra trás!

Marchinhas disponíveis em: https://www.letras.mus.br/marchinhas-de-carnaval/

4 comentários:

  1. Achei muito legal! Dará um debate show mais a reescrita. Obrigada

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fico feliz que tenha gostado! Adoro debates em sala de aula. É sempre muito enriquecedor ❤️

      Excluir
  2. Simplesmente amei a atividade, aliás, sou suspeita pra falar, pois AMO o seu cantinho e todas as suas propostas! Beijão e sucesso, querida!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada pelo carinho, Andreia!! É sempre uma honra te ver por aqui! 😍

      Excluir