quinta-feira, 8 de março de 2018

Regência nominal e verbal, crase e colocação pronominal - Questões de vestibular

1. (Enem PPL 2012) A colocação pronominal é a posição que os pronomes pessoais oblíquos átonos ocupam na frase em relação ao verbo a que se referem. São pronomes oblíquos átonos: me, te, se, o, os, a, as, lhe, lhes, nos e vos, Esses pronomes podem assumir três posições na oração em relação ao verbo. Próclise, quando o pronome é colocado antes do verbo, devido a partículas atrativas, como o pronome relativo. Ênclise, quando o pronome é colocado depois do verbo, o que acontece quando este estiver no imperativo afirmativo ou no infinitivo impessoal regido da preposição “a” ou quando o verbo estiver no gerúndio. Mesóclise, usada quando o verbo estiver flexionado no futuro do presente ou no futuro do pretérito.

A mesóclise é um tipo de colocação pronominal raro no uso coloquial da língua portuguesa. No entanto, ainda é encontrada em contextos mais formais, como se observa em:  
a) Não lhe negou que era um improviso.    
b) Faz muito tempo que lhe falei essas coisas.    
c) Nunca um homem se achou em mais apertado lance.    
d) Referia-se à D. Evarista ou tê-la-ia encontrado em algum outro autor?
e) Acabou de chegar dizendo-lhe que precisava retornar ao serviço imediatamente.   
  
  
2. (Enem 2011) 

O humor da tira decorre da reação de uma das cobras com relação ao uso de pronome pessoal reto, em vez de pronome oblíquo. De acordo com a norma padrão da língua, esse uso é inadequado, pois
a) contraria o uso previsto para o registro oral da língua.   
b) contraria a marcação das funções sintáticas de sujeito e objeto.   
c) gera inadequação na concordância com o verbo.   
d) gera ambiguidade na leitura do texto.   
e) apresenta dupla marcação de sujeito.   
  
3. (Uerj 2012) 
Ele está cansado, é quase meia-noite, e pode afinal voltar para casa. (...). No edifício da esquina, o mesmo cachorro de focinho enterrado na lata de lixo. Ao passar sob as árvores, ao menor arrepio do vento, gotas borrifam-lhe o rosto, que ele não se incomoda de enxugar.
Ao mexer no portão, o cachorrinho late duas vezes – estou aqui, meu velho – e, 1por mais que saltite ao seu lado, procurando alcançar-lhe a mão, ele não o agrada. (...)
Prevenido, desvia-se do aquário sobre o piano: o peixinho dourado conhece os seus passos e de puro exibicionismo entrega-se às mais loucas evoluções.
Ele respira fundo e, cabisbaixo, entra no quarto. 2A mulher, sentada na cama, a folhear sempre uma revista (é a mesma revista antiga), olha para ele, mas ele não a olha.
No banheiro, veste em surdina o pijama e, ao lavar as mãos, recolhe da pia os longos cabelos alheios. Escova de leve os dentes, sem evitar que sangrem as gengivas.
DALTON TREVISAN. A guerra conjugal. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.

Nos trechos transcritos a seguir, estão sublinhados dois verbos que podem ser usados com variação da regência: transitivo direto ou transitivo indireto. A variação da regência altera o sentido do verbo “agradar”: fazer agrados ou ser agradável. Já o verbo “olhar” expressa o mesmo sentido nos dois casos.

por mais que saltite ao seu lado, procurando alcançar-lhe a mão, ele não o agrada. (ref.1)
A mulher, sentada na cama, (...) olha para ele, mas ele não a olha. (ref. 2)

Identifique, no primeiro trecho, a regência do verbo “agradar” e o sentido em que ele foi empregado.
Em seguida, reescreva o segundo trecho, variando a regência do verbo “olhar” em cada ocorrência.


 4. (Uerj 2014) 
Diálogo da relativa grandeza
Sentado no monte de lenha, as pernas abertas, os cotovelos nos joelhos, Doril examinava um louva-deus pousado nas costas da mão. Entretido com o louva-deus, Doril não viu Diana chegar comendo um marmelo, fruta azeda enjoada que só serve para ranger os dentes.
Era difícil tapar a boca de Diana, ô menina renitente. Ele preferiu continuar olhando o louva-deus. Soprou-o de leve, ele encolheu-se e vergou o corpo para o lado do sopro, como faz uma pessoa na ventania. O louva-deus estava no meio de uma tempestade de vento, dessas que derrubam árvores e arrancam telhados e podem até levantar uma pessoa do chão. Doril era a força que mandava a tempestade e que podia pará-la quando quisesse. Então ele era Deus? Será que as nossas tempestades também são brincadeira? Será que quem manda elas olha para nós como Doril estava olhando para o louva-deus? Será que somos pequenos para ele como um gafanhoto é pequeno para nós, ou menores ainda? De que tamanho, comparando – do de formiga? De piolho de galinha? Qual será o nosso tamanho mesmo, verdadeiro?
José J. Veiga. A máquina extraviada. Rio de Janeiro: Editora Prelo, 1968.

Observe que, nos fragmentos abaixo, os pronomes o e elas desempenham a mesma função sintática: objeto direto.

a) Soprou-o de leve, ele encolheu-se e vergou o corpo para o lado do sopro, como faz uma pessoa na ventania.
b) Será que quem manda elas olha para nós como Doril estava olhando para o louva-deus?

Explique a diferença de formas entre os pronomes, com base na diversidade de usos da língua.

Reescreva integralmente cada construção sublinhada, de modo que o item a passe a ter a forma característica de b, e b passe a ter a forma característica de a.


5. (Fgv 2017)
Duzentos dos que gozam da mesma cidadania que ela e quase o mesmo número dos que gozam da mesma que eu figuram entre os oitocentos mortos no naufrágio de 18 de abril de 2015 na costa da Sicília. Muitos são aqueles de quem já não se fala mais, aqueles dos quais nunca se falará, jogados nas fossas comuns que se tornaram o Deserto do Saara e o Mar Mediterrâneo.
Seu filho único, um dia, partiu para a Europa com 89 outros jovens de Thiaroye (Senegal) a bordo de uma embarcação que o mar engoliu. Nós nos encontramos porque, no meu país, outras mães de migrantes desaparecidos que não querem esquecer nem baixar os braços me interpelaram: “Não vimos de novo nossos filhos nem vivos nem mortos. O mar os matou. Por quê?” Elas também não sabiam nada sobre esse mar assassino, já que nosso país não tem litoral.
Me lembrarei para sempre, corajosa Yayi, deste profundo momento de acolhimento e de partilha que foi o “Círculo do Silêncio” que organizamos juntas no Fórum Social Mundial (FSM) de Dacar, em fevereiro de 2011.
Aminata D. Traoré. “São nossas crianças”. Em: Le Monde Diplomatique Brasil, setembro de 2016. Adaptado.

Observe a colocação dos pronomes destacados nas passagens:

- “Muitos são aqueles de quem já não se fala mais, aqueles dos quais nunca se falará, jogados nas fossas comuns que se tornaram o Deserto do Saara e o Mar Mediterrâneo.” (1º parágrafo)
- “Me lembrarei para sempre, corajosa Yayi, deste profundo momento de acolhimento e de partilha…” (último parágrafo)

Comente, segundo os princípios da norma-padrão, a colocação desses pronomes nos respectivos contextos.  


6. (Pucrj 2017) 
Os filósofos chineses viam a realidade, a cuja essência primária chamaram tao, como um processo de contínuo fluxo e mudança. Na concepção chinesa, todas as manifestações do tao são geradas pela interação dinâmica desses dois polos arquetípicos, os quais estão associados a numerosas imagens de opostos colhidas na natureza e na vida social. É importante, e muito difícil para nós, ocidentais, entender que esses opostos não pertencem a diferentes categorias, mas são polos extremos de um único todo. Nada é apenas yin ou apenas yang. Todos os fenômenos naturais são manifestações de uma contínua oscilação entre os dois polos; todas as transições ocorrem gradualmente e numa progressão ininterrupta. A ordem natural é de equilíbrio dinâmico entre o yin e o yang.
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Editora Cultrix. 1982. Tradução de Álvaro Cabral, pp. 32-33.

Reescreva o trecho “Os opostos não pertencem a diferentes categorias.”, substituindo o verbo “pertencer” por “derivar”. Faça as modificações necessárias.


7. (Pucrj 2016) 
 Ética
A palavra “ética” vem do grego ethos, tal como “moral” vem do latim mores. Sintomaticamente, tanto ethos como mores significam costumes.
De acordo com essa significação original, as normas de conduta e a definição do que era certo e do que era errado eram impostas aos indivíduos pela comunidade, e os indivíduos as aceitavam (tendiam a concordar com o castigo, quando as infringiam).
Desse modo, podemos dizer que, num tempo muito antigo, os seres humanos já conheciam valores. E podemos dizer mais: esses valores, embutidos nas normas de conduta, eram inculcados nos indivíduos pelo grupo. A comunidade precedia a individualidade.
Texto modificado de KONDER, Leandro. Ética. In: YUNES, Eliana & BINGEMER, M. Clara Lucchetti. Virtudes. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2001. pp. 86-87.

Comente as mudanças estruturais e semânticas decorrentes do emprego das preposições nas frases abaixo:
Consciência e responsabilidade são condições indispensáveis da vida ética.
Consciência e responsabilidade são condições indispensáveis à vida ética.
  

8. (Pucrj 2014)  
Numa versão apócrifa da Odisseia, Lion Feuchtwanger propôs que os marinheiros enfeitiçados por Circe e transformados em porcos gostaram de sua nova condição e resistiram desesperadamente aos esforços de Ulisses para quebrar o encanto e trazê-los de volta à forma humana. Quando informados por Ulisses de que ele tinha encontrado as ervas mágicas capazes de desfazer a maldição e de que logo seriam humanos novamente, fugiram numa velocidade que seu zeloso salvador não pôde acompanhar.
Texto adaptado de BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. p.25.

Reescreva a frase a seguir, substituindo gostar por conformar-se e esforços por batalha.

"Os marinheiros transformados em porcos gostaram de sua nova condição e resistiram desesperadamente aos esforços de Ulisses para quebrar o encanto de Circe."


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GABARITO

01. D

02. B

03. No primeiro trecho, o verbo "agradar" é transitivo direto e traz o sentido de fazer carícias.
      A mulher, sentada na cama, o olha, mas ele não olha para ela.

04. Na letra a), o uso do pronome átono após o verbo (ênclise) está de acordo com a norma padrão da língua portuguesa.
      Na letra b), há um uso informal/coloquial da linguagem, pois é utilizado um pronome pessoal do caso reto como objeto direto do verbo "mandar", o que não é recomendado pela norma padrão.
Soprou ele de leve.
Será que quem as manda.

05. No primeiro trecho, todos os casos de próclise estão de acordo com a norma padrão da língua portuguesa por conter, antes dos verbos, fatores de próclise (palavras negativas e pronome relativo). No segundo trecho, há um uso informal da linguagem, visto que, segundo a norma padrão, não se deve iniciar orações com pronome oblíquo, sendo obrigatória a ênclise nesses casos.

06. Os opostos não derivam de diferentes categorias.

07. Na primeira frase, "da vida ética" exerce a função sintática de adjunto adnominal e traz o sentido de pertencimento. Já na segunda frase, "à vida ética" exerce a função de complemento nominal e traz o sentido de alvo.

08. Os marinheiros transformados em porcos conformaram-se com sua nova condição e resistiram desesperadamente à batalha de Ulisses para quebrar o encanto de Circe.




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