segunda-feira, 28 de maio de 2018

Funções da palavra "se" - Questões de Vestibular

01. (Pucrj 2017)

Tentação

Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.
A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
Os pelos de ambos eram curtos, vermelhos.
Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964, p. 67-69

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
MORAES, Vinicius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p.92-3.

a) No poema Ternura, o eu lírico dirige-se à amada usando a 2ª pessoa tu. Reescreva o verso a seguir, substituindo os pronomes oblíquos sublinhados por seus correspondentes, de modo que a 2ª pessoa empregada passe a ser “você”.
                        “Eu te peço perdão por te amar de repente”

b) Em “Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo.” (8º parágrafo do conto Tentação), a palavra “se” apresenta dois comportamentos distintos. Explique a diferença de sentido entre eles.
  
02. (Pucrj 2013) 

De um lado, a loucura existe em relação à razão ou, pelo menos, em relação aos “outros” que, em sua generalidade anônima, encarregam-se de representá-la e atribuir-lhe valor de exigência; por outro lado, ela existe para a razão, na medida em que surge ao olhar de uma consciência ideal que a percebe como diferença em relação aos outros. A loucura tem uma dupla maneira de postar-se diante da razão: ela está ao mesmo tempo do outro lado e sob seu olhar. Do outro lado: a loucura é diferença imediata, negatividade pura, aquilo que se denuncia como não-ser, numa evidência irrecusável; é uma ausência total de razão, que logo se percebe como tal, sobre o fundo das estruturas do razoável. Sob o olhar da razão: 1a loucura é individualidade singular cujas características próprias, a conduta, a linguagem, os gestos, distinguem-se uma a uma daquilo que se pode encontrar no não-louco; em sua particularidade ela se desdobra para uma razão que não é termo de referência mas princípio de julgamento; a loucura é então considerada em suas estruturas do racional.
FOUCAULT, Michel. História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1972. p.203.

a) Com relação ao trecho “A loucura tem uma dupla maneira de postar-se diante da razão: ela está ao mesmo tempo do outro lado e sob seu olhar.”, extraído do texto, identifique o referente do pronome destacado, iniciando a sua resposta da seguinte forma:
O referente do pronome _______.


03. (Pucrj 2013)


Apesar de consideradas pela crítica, durante muito tempo, uma manifestação menor da literatura, as narrativas de viagem viveram momentos de glória no passado. Inúmeros escritores se dedicaram ao gênero, e eram muitos os leitores aficionados pelos relatos de aventuras. Na forma de diários, memórias ou simplesmente impressões de viagens, os textos surgiam aos borbotões, nos séculos XVIII e XIX, ora inspirados pelo Velho, ora pelo Novo Mundo, expressando sempre o olhar fascinado, a curiosidade e o desejo do viajante de deixar registrada a sua experiência, que ele julgava ímpar.
Na Europa, os destinos mais buscados eram a Alemanha, a Itália e a Espanha, fosse pela mitologia, pela glória passada ou pela profusão de ruínas históricas. 1E não importava se a viagem durasse semanas, meses ou anos; interessava relatá-la e assim se inscrever na tradição do gênero. Dentre os mais ilustres viajantes, Goethe, Mme. de Stäel, Victor Hugo, Michelet, Lamartine e Mérimée foram autores que incentivaram outros escritores a também excursionar e a escrever sobre as novas terras.

DUARTE, Constância Lima; MUZZART, Zahidé Lupinacci. Pensar o outro ou quando as mulheres viajam. Setembro/dezembro. 2008.

Com base na frase abaixo, extraída do texto 1, determine a diferença que se estabelece entre os dois empregos da palavra se.
“E não importava se a viagem durasse semanas, meses ou anos; interessava relatá-la e assim se inscrever na tradição do gênero.” (ref. 1)


04. (Pucrj 2007) 

                Na Idade Média, no início dos tempos modernos, e por muito tempo ainda nas classes populares, as crianças misturavam-se com os adultos assim que eram consideradas capazes de dispensar a ajuda das mães ou das amas, poucos anos depois de um desmame - ou seja, aproximadamente, aos sete anos de idade.
                A família moderna retirou da vida comum não apenas as crianças, mas uma grande parte do tempo da preocupação dos adultos. Ela correspondeu a uma necessidade de intimidade e também de identidade: os membros da família se unem pelo sentimento, o costume e o gênero de vida. As promiscuidades impostas pela antiga sociabilidade lhes repugnam. Compreende-se que essa ascendência moral da família tenha sido originariamente um fenômeno burguês: a alta nobreza e o povo, situados nas duas extremidades da escala social conservaram por mais tempo as boas maneiras tradicionais, e permaneceram indiferentes à pressão exterior. Em várias ocasiões, ao longo deste estudo, vimos que eles se cruzavam. Durante séculos os mesmos jogos foram comuns às diferentes condições sociais; a partir do início dos tempos modernos, porém, operou-se uma seleção entre eles: alguns foram reservados aos bem-nascidos, enquanto outros foram abandonados ao mesmo tempo às crianças e ao povo. As escolas de caridade do século XVII, fundadas para os pobres, atraíam também as crianças ricas. Mas a partir do século XVIII, as famílias burguesas não aceitaram mais essa mistura, e retiraram suas crianças daquilo que se tornaria um sistema de ensino primário popular, para colocá-las nas pensões ou nas classes elementares dos colégios, cujo monopólio conquistaram. Os jogos e as escolas, inicialmente comuns ao conjunto da sociedade, ingressaram então num sistema de classes. Foi como se um corpo social polimorfo e rígido se desfizesse e fosse substituído por uma infinidade de pequenas sociedades - as famílias - e por alguns grupos maciços - as classes. As famílias e as classes reuniam indivíduos que se aproximavam por sua semelhança moral e pela identidade de seu gênero de vida. O antigo corpo social único, ao contrário, englobava a maior variedade possível de idades e condições.
Aries, Philippe. Historia Social da Criança e da Família. 2ª ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1981. pp. 194-6.

Em "a partir do início dos tempos modernos, porém, operou-se uma seleção entre eles (...)", a palavra SE é um pronome apassivador, que constitui também um recurso linguístico de indeterminação do agente da ação verbal. Transcreva do texto outro exemplo em que a palavra SE tenha sido empregada com essa mesma função.

  
05. (Enem 2009) 

Observando as falas das personagens, analise o emprego do pronome se e o sentido que adquire no contexto. No contexto da narrativa, é correto afirmar que o pronome se,
a) em I, indica reflexividade e equivale a "a si mesmas".   
b) em II, indica reciprocidade e equivale a "a si mesma".   
c) em III, indica reciprocidade e equivale a "uma às outras".   
d) em I e III, indica reciprocidade e equivale a "uma às outras".   
e) em II e III, indica reflexividade e equivale a "a si mesma" e "a si mesmas", respectivamente.   
  
06. (Enem 2012)
               

As palavras e as expressões são mediadoras dos sentidos produzidos nos textos. Na fala de Hagar, a expressão “é como se” ajuda a conduzir o conteúdo enunciado para o campo da
a) conformidade, pois as condições meteorológicas evidenciam um acontecimento ruim.
b) reflexibilidade, pois o personagem se refere aos tubarões usando um pronome reflexivo.
c) condicionalidade, pois a atenção dos personagens é a condição necessária para a sua sobrevivência.
d) possibilidade, pois a proximidade dos tubarões leva à suposição do perigo iminente para os homens.
e) impessoalidade, pois o personagem usa a terceira pessoa para expressar o distanciamento dos fatos.   

07. (Uel 2010)  
O labirinto da internet
Um paradoxo da cultura contemporânea é a incapacidade da maioria dos políticos de entender a comunicação política. Essa disfunção provoca, muitas vezes, resultados trágicos. É o caso da lei votada pela Câmara dos
Deputados para regular o uso da internet nas eleições. Se aprovada sem mudanças pelo Senado, vai provocar um forte retrocesso numa área em que o Brasil, quase milagrosamente, se destaca no mundo – sua legislação de comunicação eleitoral. Sim, a despeito da má vontade de alguns e, a partir daí, de certos equívocos interpretativos, o Brasil tem uma das mais modernas legislações de comunicação eleitoral do mundo.
(Adaptado de: SANTANA, João. O labirinto da internet. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/).


Observe o parágrafo: “Se aprovada sem mudanças pelo Senado, [a lei] vai provocar um forte retrocesso numa área em que o Brasil, quase milagrosamente, se destaca no mundo – sua legislação de comunicação eleitoral.”

Assinale a alternativa que expressa corretamente a função sintática das duas palavras sublinhadas.
a) Pronome apassivador e índice de indeterminação do sujeito.   
b) Pronome apassivador e pronome integrante do verbo.   
c) Conjunção subordinativa condicional e pronome integrante do verbo.   
d) Pronome integrante do verbo e conjunção subordinativa causal.   
e) Conjunção subordinativa condicional e índice de indeterminação do sujeito.   

08. (Eear 2017) 
Assinale a alternativa em que o se é índice de indeterminação do sujeito na frase.
a) Não se ouvia o barulho.   
b) Perdeu-se um gato de estimação.   
c) Precisa-se de novos candidatos militares.   
d) Construíram-se casas e apartamentos na rua pacata.   
  
09. (Espcex (Aman) 2013) Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação da partícula “se”, na sequência em que aparece no período abaixo.

O maquinista se perguntava se a próxima parada seria tão tumultuada quanto a primeira, com aquelas pessoas todas se debatendo, os bilhetes avolumando nas mãos do cobrador, os reclamos que se ouviam dos mais exaltados.

a) objeto indireto – conectivo integrante – parte do verbo – partícula apassivadora   
b) objeto direto – conectivo integrante – pronome reflexivo – partícula apassivadora   
c) objeto direto – conjunção integrante – pronome recíproco – indeterminação do sujeito   
d) objeto indireto – conjunção integrante – pronome reflexivo – partícula apassivadora   
e) objeto direto – conectivo integrador – pronome oblíquo – partícula apassivadora   

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Gabarito:  

Resposta da questão 1:
a) O primeiro pronome substitui um termo com preposição e, assim, é preciso usar o oblíquo “lhe”. Já o segundo pronome substitui um termo sem preposição e feminino e, assim, é preciso usar o pronome oblíquo “a”. Tem-se, então: Eu lhe peço perdão por amá-la de repente./ Eu lhe peço perdão por a amar de repente. (sendo que o “lhe” também pode aparecer depois do verbo: “peço-lhe”).
b) No primeiro caso, “se” é um índice de indeterminação do sujeito, tornando o sujeito da ação indefinido. Já no segundo caso, “se” é um pronome reflexivo, indicando reciprocidade na ação de comunicar.  

Resposta da questão 2:
O referente do pronome se é loucura

Resposta da questão 3:
No seu primeiro emprego a palavra se é conjunção integrante, introduz uma oração subordinada substantiva e traz o sentido de possibilidade. No segundo emprego, a palavra se é pronome pessoal oblíquo com valor reflexivo.

Resposta da questão 4:
"Compreende-se que essa ascendência moral da família tenha sido originariamente um fenômeno burguês (...)"

Resposta da questão 5: [E]
Em II, a pergunta de Susaninha revela que ela não entendeu a colocação de Mafalda, quando esta associou o natal a uma celebração coletiva em que as pessoas se amam mais umas às outras. Ao contrário, Susaninha expressa a sua personalidade narcisista e entende o pronome “se” com o sentido de reflexividade: “a si mesma” e “a si mesmas”, respectivamente.  

Resposta da questão 6: [D]
É correta a opção [D], pois a presença dos tubarões seguindo a embarcação permite que Hagar infira a possibilidade de perigo iminente e expresse essa suposição na frase “é como se eles soubessem que algo ruim vai acontecer”.  

Resposta da questão 7: [C]
No início da frase, o conectivo “se” é uma conjunção subordinativa condicional, pois estabelece a relação de condição para que aconteça a ação da oração principal “[ a lei] vai provocar um forte retrocesso numa área”. Na segunda ocorrência, como faz parte do verbo pronominal destacar-se, é pronome integrante do verbo.  

Resposta da questão 8: [C]
Nas alternativas [A], [B] e [D], os verbos (“ouvia-se”, “perdeu-se”, “construíram-se”) estão na voz passiva sintética e são acompanhados de sujeitos pacientes (“o barulho”, “um gato de estimação” e “casas e apartamentos”).  O mesmo não ocorre na [C], em que o verbo “precisar” é transitivo indireto, “de novos candidatos militares” é objeto direto e o “se” é o índice de indeterminação do sujeito.
Assim, a única alternativa correta é a [C].  

Resposta da questão 9: [A]
Relativamente à partícula “se”, é correto afirmar que:

Em “O maquinista se perguntava (a si mesmo)” é pronome reflexivo com função de objeto indireto; em “se a próxima parada seria tão tumultuada” é conjunção subordinativa integrante de oração substantiva objetiva direta; em “com aquelas pessoas todas se debatendo”, o verbo “debater”, no sentido de agitar, é pronominal, ou seja, não pode ser conjugado independentemente do seu pronome; o trecho “que se ouviam dos mais exaltados” constitui uma oração na voz passiva sintética com verbo acompanhado de partícula apassivadora, equivalente a que eram ouvidos dos mais exaltados na voz passiva analítica.

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