Leia um trecho do romance “Vila de Confins”, de
Mário Palmério, e responda às questões abaixo:
O Sertão dos Confins é um mundo de chão arenoso e
branco, que principia na Serra dos Ferreiros e acaba no Ribeirão das Palmas.
Ah, e a caatinga!
Lavoura, lavoura mesmo, por ora nada: meia quarta
de arroz aqui, litrinho ali de feijão comum; milho, cana e mandioca; e, lá uma
vez na vida, um canteirinho de algodão.
Se o Sertão dos Confins é magro de boas terras, tem
lá as suas compensações. A caça encontra-se à vontade nas tiras de mato e nas
varjões beira-rio: jacus, jaós, patos, e tudo o que é raça de passarão morador
nas redondezas de água corrente e parada. Nos campos pragueja a caça miúda das
perdizes, codornas e nhambus. Para os que apreciam bichos de porte, há fartura
de emas, queixadas, capivaras, e todo o tipo de veados das três moradas:
campeiros, catingueiros e mateiros. Antas e cervos não fugiram de todo ainda,
apesar de um ou outro caçador que sempre dá de aparecer por aquelas bandas.
Tampouco as onças-pintadas, e outras pestes da mesma marca: sucuris e jacarés,
sem falar nas piranhas, a maldição mor das águas sertanejas. As sucuris, essas,
então, infestam as cabeceiras e brejos daqueles cafundós. Uma desgraça! Jacaré,
também, enxame deles. E jacarés papo-amarelo, dos manatas — sornas sempre, mas
refinadíssimos ladrões de tudo o que é criação de terreiro. Uma beleza, o
Sertão dos Confins, para quem gosta de caçadas.
Para quem gosta da pesca, então é que é pagode!
Peixe por demais: de escama ou de couro, de bigode ou sem bigode, a peixaria é
um dilúvio. Dourados e matrinxãs, surubis e pacus, taguaras e piaus, jaús,
pirás, corvinas... — povo aquático de todas as categorias e tamanhos. Tarrafa
jogada em rasoura não volta murcha. Na pior das desgraças, são lá as suas oito
ou dez curimatás de palmo e tanto, e cascudões de mais de quilo (um ensopado de
cascudo, torrado antes no borralho para se conseguir arrancar o capotão de
couro duro que nem ferro, e temperado sem misérias de pimenta, é prato de muito
luxo). Anzol iscado com muçum não esfria na água e vai parar certinho no bucho
de um moleque dos seus oito ou dez quilotes. Isso, quando o pescador é azarado,
porque na maioria dos casos o peixe costuma pesar arroba e coisa. E não é
novidade, não senhor, arrancar-se um pintadão de mais de cinco arrobas! (...)
Este, um ligeiro apanhado do Sertão dos Confins. Esqueceram-no as geografias, esqueceram-no os governos. Quem desejar pormenores, só mesmo dando um pulo até lá.
Este, um ligeiro apanhado do Sertão dos Confins. Esqueceram-no as geografias, esqueceram-no os governos. Quem desejar pormenores, só mesmo dando um pulo até lá.
Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=iuSLDwAAQBAJ&pg
01.
Apesar de ter como enfoque
as características do Sertão de Confins, o narrador faz uma crítica política ao
término de sua descrição. Explicite essa crítica.
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02.
Para apresentar o Sertão
de Confins, o narrador faz uso de diferentes recursos linguísticos. Relacione o
uso de diminutivos no terceiro parágrafo na descrição das lavouras.
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03.
A pontuação também é um
recurso expressivo utilizado em alguns momentos do texto. Justifique o uso de
reticências em “Dourados e matrinxãs, surubis e pacus, taguaras e piaus, jaús,
pirás, corvinas...” (5º parágrafo)
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04.
Ao longo do texto, são
usadas comparações que enriquecem a narrativa. Explique o sentido da expressão
“a peixaria é um dilúvio”, presente no 5º parágrafo.
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05.
Durante a descrição, é
possível percebermos os momentos em que o narrador expressa seus sentimentos e
opiniões sobre o Sertão de Confins. Transcreva um trecho que comprove essa
afirmativa.
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GABARITO
01.
No final da descrição, com
o trecho “Esqueceram-no as geografias, esqueceram-no os governos”, percebemos
que o narrador faz uma crítica às autoridades, que parecem menosprezar as
belezas do Sertão de Confins.
02.
No terceiro parágrafo, o
diminutivo é utilizado para indicar a pouca quantidade de produções nas
lavouras do Sertão de Confins.
03.
As reticências trazem a
ideia de continuidade, indicando que há grande número de espécies de peixes a
serem encontradas durante a pesca.
04.
Ao comparar a pescaria a
um dilúvio, o narrador sugere que há imensa fartura nessa área, já que dilúvio
se refere a uma chuva de volume incontrolável.
05.
A opinião do narrador e
seus sentimentos ficam evidenciados nos seguintes trechos:
- “As sucuris,
essas, então, infestam as cabeceiras e brejos daqueles cafundós. Uma desgraça!”
- “Na pior das
desgraças, são lá as suas oito ou dez curimatás de palmo e tanto”
- “Uma beleza,
o Sertão dos Confins”
- “Isso,
quando o pescador é azarado”
EF69LP47
Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de
composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a
passagem do tempo e articulam suas partes, a escolha lexical típica de cada
gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de
sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de
enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver)
empregados, identificando o enredo e o foco narrativo e percebendo como se
estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido
decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos
espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das
diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto e
indireto), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e
processos figurativos e do uso de recursos linguístico gramaticais próprios a
cada gênero narrativo.
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