sábado, 30 de maio de 2020

Análise de um romance - Exercícios (BNCC)

Leia um trecho do romance “Vila de Confins”, de Mário Palmério, e responda às questões abaixo:

O Sertão dos Confins é um mundo de chão arenoso e branco, que principia na Serra dos Ferreiros e acaba no Ribeirão das Palmas.
Ah, e a caatinga!
Lavoura, lavoura mesmo, por ora nada: meia quarta de arroz aqui, litrinho ali de feijão comum; milho, cana e mandioca; e, lá uma vez na vida, um canteirinho de algodão.
Se o Sertão dos Confins é magro de boas terras, tem lá as suas compensações. A caça encontra-se à vontade nas tiras de mato e nas varjões beira-rio: jacus, jaós, patos, e tudo o que é raça de passarão morador nas redondezas de água corrente e parada. Nos campos pragueja a caça miúda das perdizes, codornas e nhambus. Para os que apreciam bichos de porte, há fartura de emas, queixadas, capivaras, e todo o tipo de veados das três moradas: campeiros, catingueiros e mateiros. Antas e cervos não fugiram de todo ainda, apesar de um ou outro caçador que sempre dá de aparecer por aquelas bandas. Tampouco as onças-pintadas, e outras pestes da mesma marca: sucuris e jacarés, sem falar nas piranhas, a maldição mor das águas sertanejas. As sucuris, essas, então, infestam as cabeceiras e brejos daqueles cafundós. Uma desgraça! Jacaré, também, enxame deles. E jacarés papo-amarelo, dos manatas — sornas sempre, mas refinadíssimos ladrões de tudo o que é criação de terreiro. Uma beleza, o Sertão dos Confins, para quem gosta de caçadas.
Para quem gosta da pesca, então é que é pagode! Peixe por demais: de escama ou de couro, de bigode ou sem bigode, a peixaria é um dilúvio. Dourados e matrinxãs, surubis e pacus, taguaras e piaus, jaús, pirás, corvinas... — povo aquático de todas as categorias e tamanhos. Tarrafa jogada em rasoura não volta murcha. Na pior das desgraças, são lá as suas oito ou dez curimatás de palmo e tanto, e cascudões de mais de quilo (um ensopado de cascudo, torrado antes no borralho para se conseguir arrancar o capotão de couro duro que nem ferro, e temperado sem misérias de pimenta, é prato de muito luxo). Anzol iscado com muçum não esfria na água e vai parar certinho no bucho de um moleque dos seus oito ou dez quilotes. Isso, quando o pescador é azarado, porque na maioria dos casos o peixe costuma pesar arroba e coisa. E não é novidade, não senhor, arrancar-se um pintadão de mais de cinco arrobas! (...)
     Este, um ligeiro apanhado do Sertão dos Confins. Esqueceram-no as geografias, esqueceram-no os governos. Quem desejar pormenores, só mesmo dando um pulo até lá.
Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=iuSLDwAAQBAJ&pg

01.   Apesar de ter como enfoque as características do Sertão de Confins, o narrador faz uma crítica política ao término de sua descrição. Explicite essa crítica.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

02.   Para apresentar o Sertão de Confins, o narrador faz uso de diferentes recursos linguísticos. Relacione o uso de diminutivos no terceiro parágrafo na descrição das lavouras.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

03.   A pontuação também é um recurso expressivo utilizado em alguns momentos do texto. Justifique o uso de reticências em “Dourados e matrinxãs, surubis e pacus, taguaras e piaus, jaús, pirás, corvinas...” (5º parágrafo)
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

04.   Ao longo do texto, são usadas comparações que enriquecem a narrativa. Explique o sentido da expressão “a peixaria é um dilúvio”, presente no 5º parágrafo.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

05.   Durante a descrição, é possível percebermos os momentos em que o narrador expressa seus sentimentos e opiniões sobre o Sertão de Confins. Transcreva um trecho que comprove essa afirmativa.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________



GABARITO

01.   No final da descrição, com o trecho “Esqueceram-no as geografias, esqueceram-no os governos”, percebemos que o narrador faz uma crítica às autoridades, que parecem menosprezar as belezas do Sertão de Confins.

02.   No terceiro parágrafo, o diminutivo é utilizado para indicar a pouca quantidade de produções nas lavouras do Sertão de Confins.

03.   As reticências trazem a ideia de continuidade, indicando que há grande número de espécies de peixes a serem encontradas durante a pesca.

04.   Ao comparar a pescaria a um dilúvio, o narrador sugere que há imensa fartura nessa área, já que dilúvio se refere a uma chuva de volume incontrolável.

05.   A opinião do narrador e seus sentimentos ficam evidenciados nos seguintes trechos:
- “As sucuris, essas, então, infestam as cabeceiras e brejos daqueles cafundós. Uma desgraça!”
- “Na pior das desgraças, são lá as suas oito ou dez curimatás de palmo e tanto”
- “Uma beleza, o Sertão dos Confins”
- “Isso, quando o pescador é azarado”


HABILIDADE DESENVOLVIDA (BNCC)

EF69LP47
Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, a escolha lexical típica de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco narrativo e percebendo como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto e indireto), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico gramaticais próprios a cada gênero narrativo.






Nenhum comentário:

Postar um comentário